terça-feira, 21 de setembro de 2010

BH: a cidade do "não pode"

Aquela velha frase “Belo Horizonte não tem opções de lazer”, tão entoada há alguns anos por insatisfeitos com a programação cultural da cidade, já não faz o menor sentido. Pelo contrário, a capital mineira está bem suprida de eventos que atendem a todos os gostos e, melhor ainda, oferecidos de forma bastante acessível – gratuitos ou com ingressos baratos. Com a ampliação das leis de incentivo, muitos festivais têm deixado o plano das ideias para finalmente serem praticados.

Mesmo assim, para que toda a população realmente usufrua da programação cultural, é necessário dar mais alguns passos. O primeiro deles é discutir o conceito de uso do espaço público entre os administradores da cidade. Afinal, de que adianta ter um espaço esplendoroso como o Palácio das Artes se a maior parte dos belo-horizontinos se sente constrangida em entrar ali? Seguranças de terno e gravata na porta, implicitamente, dão o recado: aqui a entrada é franca, mas não é para qualquer um.

Belo Horizonte é uma cidade que não sabe convidar seus moradores a saírem de casa e usufruírem o espaço público. A cidade conta com diversos parques, mas em todos há uma grande lista de restrições: não pode entrar com cachorro, não pode entrar com bicicleta, não pode tocar nas plantas, não pode pisar na grama. Não pode, não pode. O famoso piquenique, tão cultuado na Europa, está fora de cogitação. Mas nem tudo está perdido: pode-se caminhar na trilha determinada e pode-se conversar – mas não muito alto, para não quebrar a Lei do Silêncio.

Recentemente, a Prefeitura de Belo Horizonte se deparou com um grande grupo de jovens indignados com as restrições ao uso da Praça da Estação, imposta por meio de decreto. Divulgou-se muito que a indignação estava relacionada ao possível fim dos shows na praça, mas na verdade a moçada queria mesmo era debater o uso do espaço no dia a dia. Por que não ligar as belas fontes durante todo o dia e não apenas em horários determinados e restritos? Por que não permitir que os belo-horizontinos tomem banho de fonte em dias de intenso calor? Para alguns administradores, é preferível deixar a paisagem desértica da Praça da Estação inabitada, livre de pivetes interessados em se banhar e se refrescar.

Não só os moradores de Belo Horizonte como todos os turistas poderiam ser convidados a usufruir o espaço público e a riquíssima programação cultural que tomou todo o calendário da cidade. BH não é terra de esportes radicais – como tentou-se vender (erroneamente) no passado – nem é só a capital dos botecos. Aqui, é a terra do Palácio das Artes, do Museu da Pampulha, do Parque Municipal, da Barragem Santa Lúcia, do Museu de Mineralogia, da Praça do Papa...

Caidinho...

Santo Deus, como anda caidinho esse meu blog... isso que dá escrever profissionalmente. Passo o dia todo quebrando a cabeça para escrever bem para o jornal, que deixo de escrever por esporte...