Aquela velha frase “Belo Horizonte não tem opções de lazer”, tão entoada há alguns anos por insatisfeitos com a programação cultural da cidade, já não faz o menor sentido. Pelo contrário, a capital mineira está bem suprida de eventos que atendem a todos os gostos e, melhor ainda, oferecidos de forma bastante acessível – gratuitos ou com ingressos baratos. Com a ampliação das leis de incentivo, muitos festivais têm deixado o plano das ideias para finalmente serem praticados.
Mesmo assim, para que toda a população realmente usufrua da programação cultural, é necessário dar mais alguns passos. O primeiro deles é discutir o conceito de uso do espaço público entre os administradores da cidade. Afinal, de que adianta ter um espaço esplendoroso como o Palácio das Artes se a maior parte dos belo-horizontinos se sente constrangida em entrar ali? Seguranças de terno e gravata na porta, implicitamente, dão o recado: aqui a entrada é franca, mas não é para qualquer um.
Belo Horizonte é uma cidade que não sabe convidar seus moradores a saírem de casa e usufruírem o espaço público. A cidade conta com diversos parques, mas em todos há uma grande lista de restrições: não pode entrar com cachorro, não pode entrar com bicicleta, não pode tocar nas plantas, não pode pisar na grama. Não pode, não pode. O famoso piquenique, tão cultuado na Europa, está fora de cogitação. Mas nem tudo está perdido: pode-se caminhar na trilha determinada e pode-se conversar – mas não muito alto, para não quebrar a Lei do Silêncio.
Recentemente, a Prefeitura de Belo Horizonte se deparou com um grande grupo de jovens indignados com as restrições ao uso da Praça da Estação, imposta por meio de decreto. Divulgou-se muito que a indignação estava relacionada ao possível fim dos shows na praça, mas na verdade a moçada queria mesmo era debater o uso do espaço no dia a dia. Por que não ligar as belas fontes durante todo o dia e não apenas em horários determinados e restritos? Por que não permitir que os belo-horizontinos tomem banho de fonte em dias de intenso calor? Para alguns administradores, é preferível deixar a paisagem desértica da Praça da Estação inabitada, livre de pivetes interessados em se banhar e se refrescar.
Não só os moradores de Belo Horizonte como todos os turistas poderiam ser convidados a usufruir o espaço público e a riquíssima programação cultural que tomou todo o calendário da cidade. BH não é terra de esportes radicais – como tentou-se vender (erroneamente) no passado – nem é só a capital dos botecos. Aqui, é a terra do Palácio das Artes, do Museu da Pampulha, do Parque Municipal, da Barragem Santa Lúcia, do Museu de Mineralogia, da Praça do Papa...