domingo, 20 de junho de 2010

Não sou nenhuma especialista em literatura e essa nem é a área que cubro atualmente no caderno de Cultura do Hoje em Dia. Mas calhou de eu escrever sobre a morte do meu escritor favorito por uma brincadeira do destino. Dois dias antes da morte de Saramago, eu havia recebido por email a entrevista com seu biógrafo.
Muito difícil escrever sobre um escritor muito genial. Qualquer coisa que se diga sobre ele é muito pequeno. Mesmo assim, escrevi sobre duas matérias sobre Saramago e a primeira parte publico logo abaixo.


Morre, aos 87 anos, o escritor português José Saramago

José Saramago se despede como comunista convicto e o único Nobel da literatura em língua portuguesa. Confira infografia com as principais obras do escritor


O mundo não perdeu nesta sexta-feira (18) apenas um dos maiores sucessos editoriais das últimas décadas e único escritor de língua portuguesa laureado com o Prêmio Nobel de Literatura. A morte de José Saramago significa muito mais que o fim da produção de belas e polêmicas obras: simboliza também a despedida de uma geração que acreditava em presenciar um mundo mais igualitário. Comunista e humanista, o escritor português soube, como pouquíssimos, questionar em seus livros as instituições, o individualismo, o materialismo e a pequenez dos homens.

José Saramago morreu aos 87 anos, enquanto tomava café da manhã com a mulher, Pilar del Rio, na sua casa em Lanzarote (Ilhas Canárias). Ele foi hospitalizado diversas vezes nos últimos anos, principalmente por conta de problemas respiratórios.

Saramago nasceu na aldeia ribatejana de Azinhaga, no dia 16 de novembro de 1922. Seus pais foram para Lisboa antes dos três anos de idade do escritor. Ele fez estudos secundários que não concluiu por consequência de dificuldades econômicas.

Em 1972 e 1973, ele fez parte da redação do Jornal “Diário de Lisboa”, onde foi comentarista político, tendo também coordenado, durante alguns meses, o suplemento cultural da publicação. Entre abril e novembro de 1975, foi diretor-adjunto do “Diário de Notícias”. Desde 1976, vivia exclusivamente do seu trabalho literário.

Embora seu primeiro romance, “Terra do Pecado” tenha sido lançado em 1947, Saramago ganhou notoriedade em 1980, com “Levantando do Chão” – que viria a inaugurar o chamado “estilo saramaguiano”: a narrativa fluida, próxima da oralidade, que desobedece as normas formais da linguagem.

Ele criaria depois grandes sucessos editoriais como “Memorial do Convento”, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, “A Caverna” e “Ensaio sobre a Lucidez”, “A Viagem do Elefante”, entre outros.

Best-seller absoluto, “Ensaio sobre a Cegueira” recebeu adaptação cinematográfica em 2008, dirigida por Fernando Meireles e protagonizada por Julianne Moore.
Em 1995, José Saramago ganhou o Prêmio Camões e, em 1998, recebeu o Prêmio Nobel da Literatura – feito que, até o momento, nenhum outro escritor de língua portuguesa alcançou.

A polêmica foi uma constante em sua carreira, especialmente em 1992, quando o secretário de Cultura português vetou a indicação de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” para Prêmio Literário Europeu. Na obra, o autor aproximava o protagonista da mortalidade, dando voz a um personagem que nasceu do amor entre Maria e José, casou-se com Maria Madalena e questionou a necessidade da crucificação. O ateu Saramago voltou a polemizar ao fazer uma nova releitura da Bíblia em seu último romance, “Caim”, publicado no ano passado.

O ateísmo de Saramago não era evidente apenas em suas obras, mas também uma constante nas inúmeras entrevistas que concedeu ao longo da carreira. Proferida aos quatro ventos, “O cérebro humano é um grande criador de absurdos e Deus é o maior deles” foi uma das frases mais marcantes ditas pelo escritor. Além da crença em uma força divina, a Igreja Católica era seu alvo rotineiro.

Em 2005, ele esteve em Belo Horizonte para lançar o romance “Intermitências da Morte” (livro que mostra o que aconteceria em uma cidade onde as pessoas deixassem de morrer). Saramago afirmou ao HOJE EM DIA que não sentia qualquer medo de perder a vida. “Quando tinha 16, 17 anos, e penso que isso deve acontecer com todos os homens, surgem aqueles momentos em que deixamos de ser crianças e a ideia da morte se apresenta com muita crueza. Hoje, com minha idade avançada, não vivo com a obsessão da morte”, relatou o escritor em entrevista ao repórter Alécio Cunha.

Nesta mesma entrevista, exibindo grande humildade, Saramago disse que todos os homens são filósofos e que não é preciso ter uma avançada instrução para se refletir sobre as questões mais profundas da humanidade. “Qualquer pessoa chegará, um certo dia, a pensar nas coisas sérias deste mundo, incluindo a morte. Isso já é uma atitude filosófica. Não me proponho a nenhuma reflexão profunda. Sou um ser humano qualquer, só que com um pouco mais de informação”.

sábado, 5 de junho de 2010

A tecnologia nos deixou caretas?




Semana passada, estive em São Paulo para ver a banda que mais idolatrei durante a adolescência: o Aerosmith. No Parque Antártica, cerca de 40 mil pessoas se apertaram para ver os pais do Hard Rock. E não faltaram hits - eu até tenho uma lista de músicas que gostaria de ter ouvido no show, mas ficaram de fora.
Mas, diferente do que eu imaginava, o público não pulou e "bateu cabeça" no bom e velho estilo rock and roll. Quando se olhava para a pista da arquibancada (onde eu estava), tudo o que se via era um monte (e põe monte nisso) de luzinhas de câmeras. A grande maioria das pessoas preferiam assistir a apresentação olhando para o visorzinho da câmera, do que pular e dançar ao som dos inúmeros sucessos do set list.
Eu já havia ficado impressionada com esse fênomeno no show dos Cramberries, mas não imaginava que se repetiria de tal forma no Aerosmith. Afinal, quando eu era adolescente e o Aerosmith era um dos principais nomes da música mundial, nós roqueiros "batíamos cabeça" em todos os shows. Todos mesmo.
No Parque Antártica, não pude deixar de me perguntar: a tecnologia nos deixou careta ou ela simplesmente reflete a caretice da minha geração, que deixou o rock para o passado e agora prefere assistir o mundo de uma telinha? A maioria esmagadora do público estava nas casas dos 30, assim como foi no Cramberries. Por isso não posso generalizar, não sei como tem se comportado o pessoal que acabou de sair da adolescência. Mas como esses já escutam muitas bandas emo, dificilmente conseguirão fugir da caretice balzaquiana daqui a alguns anos.