sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Quem quer ser um crítico?

Depois do Carnaval, contei aos meus colegas de profissão que tinha adorado o filme "Slumdog Millionaire", como já afirmei neste blog. O pessoal comentou o texto mega mal-humorado de Inácio Araújo, publicado na Folha, sobre a obra. Em seguida, meu caro Miguel d'Anunciação, crítico de teatro, disse que o filme era péssimo. Com isso veio a ideia de fazer a matéria que sai amanhã no caderno de Cultura do Hoje em Dia: enquanto a crítica desce o pau, as pessoas se divertem com o longa.
Isso me fez refletir mais uma vez sobre o trabalho de crítico de cinema. Por ter feito duas coberturas da Mostra de Tiradentes, posso dizer que conheci alguns deles. Inclusive, lá entrevistei os meus preferidos, ambos do Estadão: Zanin e Merten.
Quando me formei, achava que ser crítico era o máximo. Esse foi um dos motivos que me levou a Pós em Cinema da PUC Minas. Lá eu descobri que o que gosto de escrever e ler não são críticas, mas resenhas com comentários. Isso porque o dever do jornalista não é ficar distribuindo rosas e espinhos por aí, mas orientar o espectador a assistir a um filme com um olhar mais crítico, um pouco mais comprometido. Isso é muito mais difícil do que dizer gostei ou não.
Não estou de mal com o mundo, não acho que todo filme tem que ter um comprometimento intelectual. Para mim, o importante é que a obra chegue ao seu objetivo: se é comédia, que me faça rir, se é um drama, que me comova, se é uma aventura, que tire o meu fôlego. Prefiro ir para o boteco beber com os jornalistas normais a ter discussões no Café com Letras com homens nerds frustrados, que se esquecem dos outros prazeres em nome e um único assunto.
E hoje ser crítico nem é mais sinal de status. Afinal, qualquer pessoa pode ser um. Basta ter um blog com bom marketing. No fim das contas, tudo não passa de meras opiniões que não mudam em nada os sucessos de bilheteria.
Ah. E todo este papo não é porque discordo com os críticos, porque normalmente concordo com eles. Os meus filmes preferidos são clássicos para qualquer metido a especialista. Claro, sei apreciar um boa obra, desde que me toque, obviamente. De que me importa se "Ano Passado em Marambad" é um dos títulos mais importantes da Nouvelle Vague? É a coisa mais chata que já vi! "2001", pelo contrário, é parado, mas me tocou profundamente. E consigo falar sobre ele durante horas. Assim como qualquer um dos filmes listados por mim em meu perfil de blogueira. E também não engulo qualquer blockbuster americano: se os três "Homem-Aranha" me encantam profundamente, "Transformers" é como um sonífero para mim. Falar de arte é assim: você pode tentar racionalizar a coisa, dar mil explicações, mas no fim das contas o que vale mesmo é o seu sentimento.
E os meus textos sobre cinema não são tentativas de ser crítica. São apenas comentários. Ainda sou muito nova para ser ranzinza como o Inácio Araújo.

E quando o assunto é música, a coisa é ainda mais estranha: como falar racionalmente se uma música é boa ou não? Sei que o Aerosmith, por exmplo, não tem muita sofisticação. Msmo assim, é uma das bandas que mais amo no mundo, sinto-me mexida por todo seu repertório. Por que gosto tanto, não sei dizer ao certo. Assim como não sei explicar bem porque me irritam tanto Marisa Monte e Vanessa da Matta. Só que quando ouço músicas delas, tenho vontade de sair correndo. Acho chatérrimo. Por que? Não sei explicar.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

No line on the horizon

O Cd só chega às lojas em março, mas o estou ouvindo neste momento. O novo disco do U2 vazou para a Internet e o mundo inteiro já o contempla. Eu, por exemplo, mesmo com internet lenta e baixando a última temporada de "Friends", o baixei em três horas. Viva o Torrentz! Já passou da hora de artistas do naipe do U2 criarem novas alternativas para essa grande questão.
Ah! E o CD é bem bacana, como já era de se esperar.

Slumdog

Muitos já compararam "Quem quer ser um milionário?" (Slumdog Millionaire) com "Cidade de Deus" e venho fazer coro. Edição dinâmica, exibição da miséria humana, cenas chocantes, momentos engraçados... são muitas características que unem esses dois ótimos filmes.
Esqueça a Índia maquiada (e chatíssima) de Glória Perez, onde os conflitos se resumem às diferenças de classes. Em "Slumdog", todo o podre presente na periferia da Índia (e de tantos outros países) se estampa. Mas Mumbai poderia ser São Paulo, Rio de Janeiro, Recife ou Belo Horizonte. A favela do filme pouco se diferere das nossas. Os dramas de Jamal, o protagonista, são idênticos ao de qualquer garoto pobre brasileiro. O desenvolver da história de Jamal, porém, só existe na ficção.
Como já havia dito numa postagem anterior, Danny Boyle é fantástico. Seu sucesso está em fugir dos padrões de "cinemão" hollywoodiano e empregar juventude aos seus filmes. Saem violinos e orquestras (que o Spielberg usa além do que deveria, convenhamos), entram músicas bacanérrimas, sempre com um pezinho no que há de mais novo no cenário indie ou eletrônico.
O sucesso de bilheteria de "Slumdog" no Brasil é certo - ainda mais com a melhor propaganda possível: trata-se de um filme independente vencedor de oito Oscar. O longa vai agradar a gregos e troianos, pois não subestima nossa inteligência em nenhum momento e, ao mesmo tempo, não é nada intelectualóide.
Entendo porque tenha sido tão odiado na Índia. Não é fácil para eles ver um diretor britânico expor suas mazelas de forma tão escancarada. Ainda mais porque a noção de cinema deles é bastante diferente. Os filmes de Bollywood contam histórias palatáveis e são sempre recheadas (e põe recheadas nisso) de canções, afinal a indústria do cinema está diretamente relacionada à fonográfica. Assisti a alguns filmes indianos no festival Imagem dos Povos de 2006, em Ouro Preto. Meu Deus! Vocês não imaginam o quanto aqueles filmes são chatos! Eles têm mais de três horas de duração e nos colocam frente a uma overdose de músicas e danças - até mesmo numa versão de "Macbeth"! O cinema feito lá é totalmente o oposto do nosso. No Brasil, temos a estética da pobreza (e não estou usando um tom pejorativo, eu acredito num cinema crítico), enquanto eles têm a estética das cores e das sonoridades. Fico pensando se eles iriam gostar desta novela insuportável que está no ar agora.
Por sinal, Glória Perez se superou, conseguiu fazer algo mais chato que o "O Clone" e "América".

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Momentos do Oscar

Acompanho o Oscar há muitos anos, desde quando o "Coração Valente" de Mel Gibson levou a estatueta de melhor filme. Desde então houve algumas justiças e muitas marmeladas. Gostaria de comentar algumas:

- Não sei dizer se "Central do Brasil" merecia ganhar de "A Vida É Bela", pois adoro o filme italiano, mas pegou mal colocar a Sofia Loren para entregar o prêmio. Marmelada.

- Continuando sobre o Oscar 1999, como pôde Gwyneth Paltrow vencer como melhor atriz, quando concorria contra Meryl Streep, Cate Blanchett e Fernanda Montenegro? Talvez o erro mais groceiro que já vi na festa do cinema. E "Shakespeare Apaixonado" é bonitinho, bacaninha, mas levar o Oscar de melhor filme é demais. A questão é que o melhor filme americano daquele ano não estava na disputa: "O Show de Truman". Marmelada.

- Quando finalmente temos um diretor sendo indicado para o Oscar - Fernando Meirelles -, "O Senhor dos Anéis" leva 11 estatuetas não apenas por "O Retorno do Rei", mas por toda belíssima trilogia. Azar.

- "Crash" pode até ser bonzinho, mas nunca poderia ser considerado o melhor filme de 2005. Trata-se de um filme maniqueista, que subestima a inteligência do espectador o tempo todo. Lembrando que 2005 foi o ano em que estiveram no cinema os ótimos "Boa Noite Boa Sorte", "Munique" e "Capote". Sem falar de "Brokeback Mountain", que levou o prêmio de melhor diretor, e "O Jardineiro Fiel" que nem entrou para as disputas, sabe-se lá porque. Furada.

- Numa disputa que envolvia "O Pianista", "As Horas" e "Gangues de Nova York", o Oscar de melhor filme ficou com "Chicago". Ãããhhhhhhh??? O prêmio de melhor diretor ficou com Roman Polansky - pelo menos nesta categoria a Academia teve bom senso. Eu acredito (como muitos) que o musical levou o prêmio por ser o ano do início da Guerra do Iraque. Seria uma maneira de mostrar que a vida nos EUA estava bem, apesar das bombas que caíam em Bagdá. Marmelada. PS.: O grande vencedor do Oscar 2003 na verdade foi "A Viagem de Chihiro", que venceu os grandes de Hollywood.

- Brilhantes filmes estrangeiros não levaram a estatueta por questões políticas. O brilhante "Paradise Now" perdeu em 2006 para o pequeno "Tsotsi" - já deu pra ver que passei muita raiva em 2006. O surpreendente "Osama" não chegou a concorrer. Triste.

- Palmas para a Academia no Oscar de 2008. Quem levou o prêmo maior foram os Irmãos Cohen. "Onde os Fracos não Tem Vez" é um excelente filme, com toda a marca de ironia e arte que esses irmãos sabem dar às suas obras. Justiça.

- Embora Martin Scorsese tenha levado os prêmios maiores do Oscar 2007 não por "Os Infiltrados", mas por toda sua obra, a Academia foi bastante justa naquele ano. Para mim, os melhores filmes da premiação de 2007 eram "Labirinto do Fauno" e "Pequena Miss Sunshine", mas estes não conseguiriam brigar contra Scorsese e Easwood. Ganharam bem o que puderam. Ainda teve o prêmio para A Vida dos Outros, ótimo filme alemão, na categoria de filme estrangeiro. Justiça.

- Para o Oscar de 2003, a Espanha decidiu indicar "Segunda-Feira ao Sol" em vez de "Fale Com Ela". Pelo jeito, os acadêmicos ficaram putos: "Segunda-feira" não entrou para a disputa, mas Almodovar concorreu mesmo assim, na categoria de direção. Gosto muito de "Fale com Ela", mas Almodovar (que tanto adoro) que me perdoe: "Segunda-feira" é um dos melhores filmes já feitos. No fim das contas, quem levou em 2003 o Oscar de melhor estrangeiro foi "Lugar Nenhum na África", um filme bem mais ou menos. Triste.

- Agora que Bush não está mais no poder, tomara que tudo se transforme na Academia. Que os prêmios não sejam mais dados de acordo com o momento político, pois assim sempre perdem os que ousam.

Danny Boyle



Ainda não vi "Slumdog" e já gostei. Não apenas porque o filme acaba de receber oito Oscars - Titanic ganhou um montão de estatuetas e está a mil léguas de estar entre meus favoritos -, mas porque seu diretor é o ousado Danny Boyle.

Quando se lançou nesta carreira, o cineasta logo chamou a atenção dos britânicos. Com Cova Rasa, o diretor arrasou. Ironia, surpresa, tensão são alguns de seus elementos. Em seguida veio Trasnpotting o reconhecimento mundial. O filme é sensacional, pois mostra de forma inventiva - e, algumas vezes, nojenta - o lado bom e o lado ruim da heroína.

Muitas pessoas não gostam de "A Praia", mas eu sim. Principalmente no momento "videogame" do persnagem de Leo de Caprio. Se o filme não recebeu muitos elogios foi porque seu público estava atrás do rostinho bonito do então queridinho de Hollywood e não de um filme com assinatura de um cineasta ousado.

Depois vieram outras arriscadas produções, entre elas Extermínio - que eu acho ser um filme digno, apesar de tratar de zumbis. O bacana desta produçao é ver que os personagens não sabem se aquela praga se concentrou na Inglaterra ou se são os únicos sobreviventes do planeta. Ah! E ainda tem os deliciosos Por uma Vida menos Ordinária e Caiu do Céu. Todos mostram de alguma forma a juventude e a atualidade de Boyle.


Sobre o Oscar, mais alguns comentários:


Gostaria muuuuuuiiiiiito de ter acompanhado o Oscar, mas nao foi possível porque quem diz o que eu devo ou não ver é o Boni e a cúpula da Globo. Entendo que para eles o Carnaval seja mais importante (a festa é exibida em vários países), mas podiam pelo menos ter exibido gratuitamente pela internet.


Fico feliz que Hollywood esteja aprendendo a premiar filmes de baixo orçamento, visando mais a arte do que a indústria.


Adorei ver que a festa foi aberta com um prêmio a Penelope Cruz, que não é só lindíssima, mas extremamente talentosa - inclusive, para arrumar namorados


Hugh Jackman é muuuuuiiito gato

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Ramsés



Quem fala que não gosta de gatos certamente não conhece o Ramsés. Além de ter uma pele de veludo, ele é uma das criaturas mais carinhosas que já encontrei. Quase todo o tempo em que estou em casa, ele está ao meu lado.

Quando saio à noite, ele fica ao lado da porta me esperando. Quem disse que o gato só gosta da casa?

Ok, os gatos não abanam o rabo para todos que se aproximam, nem chegam perto sempre quando os chamamos - eles sabem fazer valer suas vontades. Mas são supercarinhosos e seus donos são aficcionados por felinos - minha irmã é veterinária e diz que donos de gatos são mais apaixonados por seus animais do que os donos de cachorros.

Para quem não gosta de gatos, um conselho: conheça um de perto. Aproveite uns momentos ao lado de um animal carinhoso, superinteligente, limpo, divertido e macio como nenhum bicho de pelúcia.

Ah! E para quem não sabe ainda, meu gato é chique: tem orkut!

Meu vício: Friends




Sou eclética, gosto demais de muitas coisas. Sou grande fã de rock, gosto demais de cinema, adoro desenhos animados, amo história, gosto de me manter informada... Mas se existe alguma coisa que conheço até demais e chega a ser um vício em minha é o serido "Friends". Tenho até a 8a temporada em DVDs e passei 45 dias baixando a 9a. O que demorou tanto para entrar no meu computador, foi rapidamente "devorado": em apenas dois carnavalescos dias, assisti a toda 9a temporada. E já estou baixando a última... Minha irmã não aguenta mais ouvir aquela musiquinha da abertura...
Difçil dizer qual foi o episódio que mais assisti, mas sei que há alguns que já vi mais de dez vezes. Nem preciso de legendas - o que faz de "Friends" uma excelente maneira de se manter contato com a língua inglesa.
Se me perguntarem por que gosto tanto, não terei respostas racionais a dizer. Apenas que acho engraçado pra cara***, que me identifico com todos os personagens, que adoro ver o quanto aquelas seis pessoas se amam... se é inteligente, não sei dizer. Muitas vezes sei que é. O que importa é que "Friends" me faz rir, mexe com minhas emoções. Principalmente, porque é uma comédia universal, sobre pessoas que moram em NY, mas poderiam viver em São Paulo, em Londres, em Frankfurt ou em Buenos Aires. São jovens de uma grande cidade moderna, vivendo histórias de quem quer ser bem-sucedido no amor (ou sexo, se estivermos falando do Joey) e no trabalho.
Cada fã da série tem o seu personagem favorito. O meu é Ross Geller. Ele é a tradução de um nerd: bem-sucedido na profissão superintelectual, mas se atrapalha com as coisas mais simples do mundo. Difícil saber qual a cena mais engraçada que já vi com este personagem, mas vou arriscar algumas:
- O encontro em que foi vestido de calça de couro - impagável vê-lo desesperado tentando vestir a calça com loção e talco;
- O encontro em que está com os dentes muito brancos - "What's the matter with you?" kkkkkk
- O episódio em que está bravo com Joey e mesmo assim acaba levando dois socos (sem querer) do amigo
- Quando dança uma música chula com a Rachel para arrancar risos de Emma
- Quando ele cria uma festa para seus vizinhos, mas ninguém aparece, pois todos os odeiam
- O episódio em que faz um memorial para ele mesmo


E tantos e tantos outros...

sábado, 21 de fevereiro de 2009

O povão quer Mangueira, a Globo quer...

Beija-Flor na Ana Maria Braga. Beija-Flor no Caldeirão do Huck. Beija-Flor no BBB. Beija-Flor no Estrelas. Beija-Flor nas reportagens... Dá pra alguém me responder por que a Globo só mostra a Beija-Flor? Já tô até cantarolando o samba ruim deles por causa dessa overdose musical.
A Globo só mostra a Beija-Flor por que ela ganha todo ano, ou a Beija-Flor ganha todo ano porque é a queridinha da Globo?
Mas sei que o povão não compra essa história. A Mangueira e a Mocidade, até onde eu sei, ainda são as escolas mais amadas do Rio de Janeiro. Beija-Flor é coisa de quem mora em Nilópolis e de artista.
Deus abençoe o chato do Neguinho da Beija-Flor, que lhe dê muita saúde, mas também abençoe a cabeça dos carrancudos juízes da Sapucaí, que não percebem o que realmente levanta o público.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Lúcio Maia: paixão eterna



Quem já foi comigo a um show da Nação Zumbi sabe como fico quando me deparo com esta figura. Minha paixão pelo Lucio Maia é datada da mesma época em que me apaixonei por Chico Science e Nação Zumbi - lá se vão 14 anos...














Além de ser o melhor guitarrista do Brasil (se duvida, me aponte algum outro que tenha criado riffs tão bons quanto), Lucio tem um carisma único.

Por ele, eu sou verdadeiramente tiete: fico bem perto do palco, pulo alto, canto até sumir a voz...

Adoro...
PS.: Se alguém quiser me dar o Cd do Lucio de aniversário...

O que matou o Sérgio Naya?

Notícia (boa) do dia: Morre Sérgio Naya. O caso da morte ainda não foi revelado.
Espero que ele tenha morrido desidratado devido a uma diarréia que o acalentava há dias ou de reação alérgica a camarão. Imagina só aquele fdp todo empolado, com falta de ar? Sonho meu... Apendicite? Problema renal? Hummmm... Tomara que tenha sido algo bem dolorido...
Peço desculpas à minha mãe, que me ensinou a não sentir ódio por ninguém, mas tenho que admitir que fiquei feliz demais com a notícia. Só espero que, na hora de resolverem o inventário, se lembrem das dezenas de famílias que esperam ainda pela indenização.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Yes, nós temos Heródoto!


Notícia da semana no meio jornalístico: Lilian Witte Fibe sai do "Roda Viva"; quem assume é Heródoto Barbeiro. A minha pergunta é: por que ele não assumiu esse posto antes? Por que tivemos que aturar aquela figura mega estranha num programa tão importante da TV?
Fiquei feliz demais com a notícia. Heródoto é o cara. Segue release da TV Cultura:
Bacharel em História, Direito e Jornalismo, e mestre em História pela Universidade de São Paulo (USP), Heródoto foi professor de História por quase 30 anos antes de enveredar pelo jornalismo.
Na década de 80, comandou o programa Vox Populi na TV Cultura, por alguns meses. Em 1992, Heródoto retornou à emissora, onde permanece até os dias atuais, passando por diversos programas, Jornal da Cultura, Opinião Nacional, 60 Minutos, o Cesta Básica, o Balanço Social e o próprio Roda Viva (entre 1994 e 1995).
Âncora do Jornal da CBN, Heródoto também assina colunas em diversos jornais do interior paulista, nas revistas Gol Futebol Clube e Conselho Regional de Enfermagem, além de manter sempre muito atualizado o blog do Barbeiro. É autor de livros na área de treinamento para empresas, jornalismo, história e religião, como Meu Velho Centro, Fora do Ar, Manual de Telejornalismo e Buda – O Mito e a Realidade. Graças à sua competência e credibilidade, Heródoto Barbeiro conquistou muitos prêmios ao longo de sua carreira, entre eles, APCA, Comunique-se e Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo.
Essa passagem de oito meses de Lilian pelo "Roda Viva" é a prova de que ser apresentador deste programa é um dos cargos mais complexos do jornalismo nacional. A pessoa tem que saber de tudo: de economia a cinema, de política a literatura portuguesa. Como Lilian só entende de economia, ela ficava mais perdida do que cego em tiroteio. A entrevista com Fernando Meirelles (meu Deus!) foi tenebrosa - não apenas por causa de Lilian, claro. Coitada do nosso supercineasta.
Heródoto este à frente de algumas das principais entrevistas do programa. O cara conhece muito bem a dinâmica do "Roda Viva".
Tenho certeza que o programa volta agora a ser peça fundamental para o meu crescimento intelectual.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Trajetória escolar

No semestre passado, na aula de Sociologia da Educação, a professora nos pediu um trabalho final sobre a nossa própria trajetória escolar. Devo não ter me saído mal, pois fiquei com uma boa nota da matéria - bem acima do que realmente merecia. Foi um trabalho bacana de se fazer, pois pude relembrar os meus momentos com colegas e professores em toda minha vida como aluna - completo 28 anos em duas semanas e nunca parei de estudar. Seguem trechos do trabalho.

Dois momentos da minha trajetória escolar renderiam bons textos, recheados não só de fundamentação teórica, como também de um gostoso saudosismo/saudade. O primeiro se refere aos melhores anos da vida, experimentados nos corredores do Colégio Técnico da UFMG entre os anos de 2005 e 2007. Valeu o esforço que tive que despender para conseguir entrar nesta escola – tratava-se de uma disputa de 30 candidatos por vaga! O segundo momento foi a tão sonhada entrada na faculdade. Em 1999, após amargar um 15º lugar excedente no curso de Comunicação Social da UFMG, me vi ingressando no curso de Jornalismo da Unesp, em Bauru.
Dois momentos que me trouxeram importantes experiências, dois momentos que me trouxeram duas diferentes profissões – sou técnica em eletrônica e jornalista! Depois de uma reflexão, decidi optar por centrar este trabalho nos tempos de Bauru. Afinal, os amigos de Coltec estão sempre por perto e constantemente acabo lembrando da minha adolescência de forma reflexiva. Mas a faculdade de Jornalismo não está apenas no passado, mas também há 800 km de distância. Assim, falar sobre o assunto será aproximar a Unesp novamente de mim, me ver novamente inserida no maior campus da segunda maior universidade pública do Estado de São Paulo.
Antes de qualquer coisa, é importante compreender que se pude estudar no melhor colégio público de Belo Horizonte (e o mais concorrido) e em duas das principais universidades do Brasil (Unesp e UFMG), devo isso ao meu pai. Carlos Alberto de Oliveira nasceu em uma filha chefiada por um funcionário público em Itapetininga, interior de São Paulo. A perspectiva de estudar em uma universidade parecia coisa de megalomaníaco na família Oliveira. Mas o ambicioso Carlos sempre foi bom aluno e correu atrás. Entrou na faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp com apenas 18 anos, sendo um pioneiro. O primeiro da família a ingressar numa universidade. A segunda seria sua filha mais velha: eu.
Para o meu pai, não importava se eu ou minha irmã fôssemos crianças bagunceiras ou desbocadas; quem devia cuidar desse assunto era minha mãe. Meu pai fazia questão apenas que fôssemos boas alunas. Boas, não. Ótimas. “Não há diferença entre o segundo lugar e o último”, dizia sempre.
Hoje sei que boa parte de minha frustração e momentos de baixa auto-estima estão relacionadas a essa educação dada pelo meu pai. Mas também não posso negar que meu sucesso escolar está totalmente ligado a ele. Não apenas pela cobrança por notas boas, mas também pelo exemplo dado. Meu pai é um ávido leitor, com uma invejável biblioteca. Apaixonado por guerras, me ensinou a tomar gosto por filmes que vivenciavam a Guerra do Vietnã ou a Segunda Guerra – e hoje estudo para ser professora de história...
Não considero que eu fosse uma pessoa de grande capital cultural em minha adolescência. Somente meu pai era influência suficiente para que meu capital cultural pudesse ser considerado significante. O prazer pela leitura já estava dentro de mim no Ensino Fundamental, mas antes do 15 anos mal sabia quem era Chico Buarque ou Led Zeppelin. Foi no Coltec, tendo contato com filhos de professores e ex-alunos do Centro Pedagógico, que me tornei uma social-democrata (sou de uma família de malufistas), apaixonada por rock e MPB (meus pais gostam de sertanejo e música popular), conhecedora de vinho e fondue. O que mostra que capital cultural não é obtido apenas por meio dos pais, mas também pelo convívio social.
(...) Provavelmente, me adaptei facilmente à cultura escolar por ter crescido em uma casa chefiada por um homem que sempre valorizou o conhecimento escolar e as informações adquiridas por meio da mídia. Pensando bem, minha família pôde me preparar para o sucesso escolar: meu pai lia jornal diariamente (e eu comecei a copiá-lo no final de minha infância), minha mãe comprava semanalmente revista em quadrinhos para mim, além de me levar ao cinema e ao teatro. Um privilégio, certamente.
Na Unesp (responsável pelo segundo maior vestibular do país, atrás da USP), encontrei uma pluralidade cultural inimaginável. Bauru é uma das mais importantes cidades universitárias do país, não apenas por concentrar um enorme número de estudantes (ali estão a Unesp, a USP e três grandes universidades particulares), mas ainda por atrair pessoas de todo o país. Em uma turma de 50 alunos, apenas dois eram da cidade. Éramos oito de Minas Gerais, duas de Goiânia, cerca de 15 da capital paulista e outros tantos do interior do Estado.
Na turma, estudavam filhos de donos de jornais, médicos, arquitetos, engenheiros, entre outros profissionais liberais. Havia também oriundos da classe média baixa e pessoas formadas em outras faculdades. Cada um tinha um sotaque, uma maneira de se vestir, uma maneira de ver o mundo. Quem vinha da região metropolitana de São Paulo ou de Ribeirão Preto já sabia o que eram drogas, álcool, rock, MPB, PT, PSDB, sexo, teatro etc etc. Já quem vinha de cidades pequenas trazia informações sobre economia agrária, música sertaneja, geografia do Estado de São Paulo, tradição. No fim das contas, todo mundo aprendia com todo mundo e os nossos quatro anos de Jornalismo foram marcados pela troca de informações.
Alguns assuntos eram recorrentes nos tradicionais debates de sala de aula. Movimento estudantil e MST estavam no topo da lista. As discussões eram tão calorosas (imaginem os filhos de fazendeiros conversando com militantes de esquerda a questão agrária?), no terceiro ano, decidimos proibir entre nós o assunto MST.
O capital cultural dos filhos de intelectuais era impressionante, mas no decorrer da faculdade, com a troca de informações constante entre os estudantes, as pessoas de classe média baixa foram conquistando bastante conhecimento. Para mim, estudar na Unesp significou uma rápida passagem para a vida adulta. Com 18 anos, já morava a 800 km de meus pais, de meu namorado, de meus melhores amigos. Mais do que teorias da comunicação e do jornalismo, aprendi a arrumar uma casa, manter as contas em dia, a dividir o espaço com pessoas totalmente diferentes de mim. Quando voltei para Belo Horizonte, não era simplesmente uma formanda em jornalismo. Era uma pessoa que havia aprendido um pouquinho com cada pessoa com quem convivi nos quatro anos de curso. Com os amigos de São Paulo, conheci mais sobre música, literatura e artes em geral. Com os amigos do interior, aprendi sobre tolerância, respeito, força de vontade, alteridade.

Vacilão...



Lição do dia: se vai zoar alguém, não deixe provas; fale, não escreva.

Lembrando que este tipo de erro é mais comum do que se pensa...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Raízes do Brasil

Um pouquinho da Cinthya estudante:

Escrito em 1936, o primeiro livro de Sérgio Buarque de Holanda (e o mais famoso de sua aclamada trajetória como escritor e intelectual) traz um ensaio sobre a identidade nacional. Por meio de uma perspectiva psicológica e sociológica, o autor mostra como a colonização portuguesa foi determinante para a construção de diversas características do brasileiro da contemporaneidade. O patriarcalismo, o culto ao ócio e o espírito aventureiro dos portugueses foram decisivos, segundo o autor, para o desenvolvimento do caráter do brasileiro, apontado em seu capitulo mais estudado como um homem cordial (termo empregado de forma pejorativa, já que essa cordialidade esta diretamente relacionada ao jeitinho brasileiro e à corrupção).
O livro foi recebido com ressalvas assim que chegou ao mercado. Isso porque, logo em que foi instaurado o Estado Novo (1937), a sua idéia de que não há como definir uma identidade nacional permanente ou fixa batia de frente com o que era pregado pelo presidente da República, Getúlio Vargas. Alem disso, incomodou a elite nacional, que ainda acreditava em uma “europeizaçao” do Brasil. Porém, anos depois, a obra passou a ser encarada como inovadora pelos intelectuais, especialmente porque estava claro que Holanda não desejava se encaixar em nenhum método ou linha de pesquisa de alguma área do conhecimento. Assim, seu livro foi logo admirado não somente por historiadores, mas também por cientistas sociais, geógrafos e críticos literários. Outra questão que chamou a atenção dos intelectuais é que, diferente dos “explicadores” anteriores, como Gilberto Freyre e Oliveira Viana, Sérgio Buarque de Holanda realizou seu ensaio em função do presente. Por isso, o livro faz uma ponte, o tempo todo, entre o passado e o presente, mostrando como vários acontecimentos do Brasil Colonial influenciaram fatos e características do cotidiano do Brasil do século XX.
As fontes utilizadas pelo autor são secundárias. Na obra, há referências bibliográficas de 140 obras, entre livros de historiadores, críticos literários e romances. Em alguns momentos do texto “O Homem Cordial”, ele baseia parte de sua teoria em idéias desenvolvidas por grandes mestres da sociologia e da filosofia, como Weber e Nietzsche.
“Somos ainda uns desterrados em nossa terra”. Por que essa frase de “Raízes do Brasil” e a mais citada e lembrada até hoje por intelectuais das mais diversas áreas? O que o autor quis expressar ao escrevê-la? Pode-se escrever teses sobre o assunto, mas num primeiro momento o que se pode dizer é que ela faz referência às diversas ausências apontadas por Sérgio Buarque de Holanda que foram cruciais para a formação da identidade do brasileiro: a ausência de uma ética e de uma valorização do trabalho, a ausência de um planejamento de construção de um país, a ausência de conhecimento intelectual. A cultura brasileira, para o autor, é uma união de ausências.
Diferente de Gilberto Freyre, que exaltara a adaptação do português aos trópicos, Sérgio Buarque reclama dos vários problemas dos ibéricos – especialmente em relação à má vontade para as letras, para a imprensa e a educação – como o principal motivo para a ignorância na qual o Brasil se afundou desde a chegada de seus colonizadores. Viu-os como simples semeadores que desejaram sair do litoral, ao contrário do ladrilhador espanhol que se embrenhou no coração da América, ocupando-a com cidades planejadas, abrindo escolas, gráficas e universidades. Os ibéricos são acusados pelo autor de serem extremamente personalistas, avessos a instituições solidárias, fatos que levavam à frouxidão da estrutura social e à falta da hierarquia organizada.
Um dos pontos mais geniais de “Raízes do Brasil”, tanto que e o mais comentado do livro em seus mais de 70 anos de existência, está no desenvolvimento das características do homem cordial, ou seja, em mostrar que a cordialidade do brasileiro não é uma boa característica; pelo contrário, é um dos principais motivos para que os problemas político-sociais sejam encarados de forma provinciana e patriarcal.
De início, é difícil compreender a complexidade dessa teoria e como ela se aplica a todos os períodos da história do país. Vivemos, assim como o Sérgio Buarque de 1936, num Brasil ainda tomado pelo patriarcalismo, pelo populismo, pelo nepotismo e, especialmente, pelo jeitinho brasileiro.
O texto de Holanda é bastante elucidativo quando a discussão em questão são os resultados do exercício da democracia política brasileira. Se todos possuem o direito de votar secretamente, porque a corrupção ainda impera no país? Certamente, porque a maioria dos políticos se mostra como homens cordiais, capazes de conquistar a simpatia do eleitorado, sem nem sempre apresentar qualidades que realmente seriam importantes no exercício de um cargo público. São homens que depois indicarão parentes e amigos íntimos para cargos públicos de confiança, se utilizando do dinheiro público para pagar salários a pessoas que nem sempre são as mais qualificadas.

Embora “Raízes do Brasil” tenha sido publicado em 1936, quase todo o raciocínio de Sérgio Buarque de Holanda pode ser aplicado aos dias de hoje – em pleno século XXI. Na atualidade, o Brasil possui uma democracia política consolidada, é uma das maiores economias do mundo, fonte de curiosidade em várias partes do mundo. Porém, o brasileiro ainda é um homem cordial e, com isso, todos os problemas agregados a esse tipo descrito por Holanda permanecem. Corrupção, jeitinho, nepotismo, coronelismo político são recorrentes num Brasil burguês e liberal.
É incrível observar como todos os capítulos trazem pensamentos e análises que podem ser aplicadas ao Brasil de 2007. No capítulo “Novos Tempos”, momento em que Holanda pretende mostrar que a herança da cultura lusitana permanece no Brasil, mesmo que isso atrapalhe o desenvolvimento do país, se aplica totalmente à atualidade. Vivemos numa época em que o acesso ao ensino universitário cresce de forma impressionante. Mas o interesse das pessoas, seus sonhos de carreira, permanece o mesmo. Assim como na década de 1930, as pessoas desejam conquistar cargos no funcionalismo público que lhe proporcionem bons salários e pouco esforço em vez de procurarem serem profissionais liberais reconhecidos por uma trajetória de esforço. O enriquecimento rápido e fácil continua a ser o objetivo da maioria dos brasileiros.
Também é importante destacar o método utilizado pelo autor para defender suas idéias e tão brilhantemente apontado por Antônio Cândido no prefácio de “Raízes do Brasil”. A construção de tipos antagônicos e dialéticos nos leva a uma nova forma de enxergar a sociedade. Aprendemos muito com Max Weber, mas com Sérgio Buarque de Holanda podemos ter contato com uma metodologia sociológica mais palpável, mais possível de passear pelas diferentes áreas do conhecimento humano.

"2001"

Era um tradicional fim de semana sem grana no primeiro ano de faculdade - há dez anos. Eu e Elisa, amiga que morava comigo, pegamos emprestado uns filmes com a Lígia e decidimos vivenciar um "fim de semana de ficção científica". Na noite de sábado, era a vez de "2001"; no domingo, veríamos a trilogia antiga de "Star Wars".
Já sabíamos que "2001 - Uma Odisséia no Espaço" era especial, um marco na história do cinema, mas não imaginávamos que o impacto seria tão grande. No final, as duas boquiabertas só conseguiam repetir: "Meu Deus, o que é isso?" Foi naquela noite de sábado sem grana que me apaixonei pelo cinema de Stanley Kubrick. Depois disso, me surpreenderia ainda com "Laranja Mecânica", "Lolita", "Dr. Fantástico" etc. etc.
Muitas pessoas não entendem meu fascínio por "2001". Dizem que o filme é muito chato. Concordo que ele seja parado, mas isso não é sinônimo de chato. Não se trata de um filme de ação de George Lucas (que eu também adoro), mas a visão do cineasta mais brilhante de todos os tempos sobre a evolução do homem e sua tecnologia - consequentemente, a história de seus piores sentidos. O homem surge quando o macaco vê que é capaz de matar um semelhante; o homem se aperfeiçoa quando cria uma máquina capaz de pensar, sentir, se vingar, matar.
Para se entender a importância de "2001" o espectador não pode deixar de levar em conta o momento em que o filme chegou às telas do cinema: em 1968, pouco antes do homem colocar os pés na Lua. A riqueza de detalhes, a forma com que tudo foi pensado cientificamente, o design das naves, são verdadeiramente impressionantes. É tudo tão perfeito que só percebemos a idade do longa-metragem ao observar as roupas dos personagens - tem um personagem sem importância que usa um terno xadrez!
O embate emocional entre HAL 9000 e Dave no final é antológico. O computador pode ter adquirido qualidades e defeitos humanos ao ganhar alta inteligência, mas o homem ainda tem como armas a sagacidade e a experiência de vida. Mas o maior impacto para mim ( e pelo que me lembro, para a Elisa também) foi aquela grande viaaaaaaagem do Kubrick sobre Dave chegando a Júpiter. Na primeira vez em que vi aquilo pensei: "por que estou vendo este filme sóbria?" Se tivesse tomado umas três latinhas durante o filme, certamente teria chegado a Júpiter com o astronauta... E o neném? Surreal!... Sem falar nos primeiros 15 minutos do filme. A prova de que se pode fazer cinema sem falas ou música.
Para quem ficou com aquela sensação de não entendi nada (suuuuupernormal), o livro é bem menos traumático. Lembro-me pouco dele (dez anos é muito tempo para a minha memória), mas posso dizer que é bem mais explicativo e é mais claro o final dado ao Dave em Júpiter. Muito bom, diga-se de passagem. Não saberia dizer se o inteligentíssimo e visionário Arthur C. Clarke (morto no ano passado) escreveu outros bons livros, pois não li mais nenhum. Mas só o livro e o roteiro de "2001" já são suficientes para colocá-lo num posto de mestre da ficção científica.
Certamente falarei mais de Stanley Kubrick neste blog. Pode-se passar horas a fio falando deste cineasta, que o assunto nunca se esgota.

Alceu Valença

Segue meu texto, publicado hoje no caderno de Cultura do Hoje em Dia, sobre o novo disco do Alceu Valença. Vale a pena demais conferir o CD. É belíssimo! Também é bom registrar que o show realizado por ele no Chevrolet Hall foi bacanérrimo - embora o Spok Frevo Orquestra tenha roubado a cena na festança promovida pelo governo de Pernambuco.


Alceu Valença estreia na Biscoito Fino
Cinthya OliveiraEspecial para o HOJE EM DIA
Mesmo sem trazer músicas inéditas, há muita novidade em “Ciranda Mourisca”, primeiro trabalho de Alceu Valença lançado pela gravadora Biscoito Fino. Esta é a primeira vez em que o cantor se aventura pela produção e direção artística de um CD seu – e foi muito bem-sucedido nesta nova empreitada. O disco traz 12 faixas presentes em diferentes trabalhos que o artista pernambucano lançou em seus 35 anos de carreira. Todas são consideradas “lado B”, pois não tocaram em rádios nem são pedidas pelo público em shows de Alceu. Isso não quer dizer, de forma alguma, que são canções menores. Pelo contrário. Isso apenas significa que não chamaram a atenção dos diretores de marketing das gravadoras pelas quais o artista passou – não nos esqueçamos de que, normalmente, são eles quem escolhem as faixas dos discos destinadas ao sucesso.Com a tarefa de fazer um CD de cirandas, Alceu mergulhou no próprio trabalho autoral, atrás de canções que já tivessem uma levada “mourisca”, mediterrânea, para dar-lhes novos arranjos. O resultado é um trabalho refinado, apresentando um Alceu Valença menos carnalesco – como vinha sendo nos últimos tempos. “Ciranda Mourisca” é uma mistura de folclore pernambucano e sofisticação. É um trabalho daqueles em que não se percebe traços das tradicionais imposições de uma gravadora, mas uma entrega por parte do artista – um “surto artístico”, como definiu o próprio Alceu.O destaque é a última faixa, “Ciranda da Rosa Vermelha”, famosa na voz de Elba Ramalho, mas nunca gravada por Alceu. É a canção cuja característica mais marcante é o principal elemento de uma ciranda pernambucana: o coro. É impossível não reconhecer os versos “A rosa vermelha/ é do bem querer” , mas mesmo assim a música não soa como velha. Pelo contrário, ao unir um coro com violão, guitarra e diferentes instrumentos de percussão, a ciranda ganha ares modernos. Embora a ciranda tradicional seja feita com ganzá, bombo, caixa e pistom, os arranjos dados às 12 faixas deste disco vão muito além disso. Diferentes violões, flautas, moringa, caxixi, reco-reco, agogô são alguns instrumentos usados nas canções com um único objetivo: empregar uma sonoridade leve e aproximar-se do som típico do Mediterrâneo. Também é importante reforçar o lirismo das músicas selecionadas para o disco. Em várias delas, há um intertexto com poetas famosos, como Fernando Pessoa e Carlos Drumond de Andrade.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Jack, Lord, Studio e cia.

Hoje foi publicada, no caderno Plural do Hoje em Dia, a minha materia sobre as casas que tocam rock de BH. Poderia ter escrito muito mais, mas o espaço era pequeno. Abaixo, a matéria.


Bar, charme e rock’n’roll
Cinthya OliveiraEspecial para o Hoje em DiaLei Seca? Crise? Nada disso é problema para os donos das casas noturnas dedicadas ao rock em Belo Horizonte. De quarta a domingo, o que se vê na noite da capital são espaços de shows lotados com público diversificado em busca de bom atendimento, cerveja gelada, sinuca e, é claro, bons shows de rock ´n´ roll. Enquanto muitos empreendimentos dedicados a outros estilos musicais possuem uma sobrevida curta, quem direciona sua programação aos roqueiros vê um longo sucesso.“Na região metropolitana, vivem quase cinco milhões de pessoas. É um potencial muito grande. Quem souber cativar o público e fizer uma boa divulgação terá sucesso. Acredito que ainda há espaço para mais casas de rock. Belo Horizonte sempre teve a fama de ser uma cidade roqueira, tanto que foi aqui que nasceram a Cogumelo (selo que revelou várias bandas importantes), o Sepultura, o Patu Fu, o Skank e o Tianastácia”, afirma Carlos Velloso, o Caju, sócio-proprietário do Jack Rock Bar e do Lord Pub ao lado de Gustavo Jacob e Sérgio Quintino.Os rapazes entraram nessa empreitada há seis anos, quando decidiram comprar o antigo The Jap para transformá-lo no Jack.“Acredito que o sucesso aconteceu porque nossos bares são temáticos, tudo neles remete ao rock. Não há muitos lugares em Belo Horizonte com esta característica”, diz o empresário.O retorno do público tem sido tão bom que projetos surgiram nas duas casas. No mês passado, começou no Lord Pub o “Quarta Nacional”, projeto dedicado ao rock nacional – em princípio, trazendo a banda Putz Grila, sucesso garantido da casa nas noites de domingo, ao lado do Chevette Hatch. Além disso, há o projeto Cara a Cara, cujo objetivo é trazer grandes artistas para shows intimistas. A estreia da iniciativa foi no ano passado com Nazi. A procura pelo show do ex-vocalista do Ira! foi tão grande que foi necessário realizar uma nova apresentação.“O projeto vai acontecer de dois em dois meses e é bacana porque permite que o fã possa ver o seu ídolo de pertinho. Dia 21 de março, será a vez do 14 Bis, diz Caju.


Bandas cover festejam e público dá respaldoCinthya OliveiraEspecial para o Hoje em DiaSer empresário no universo do rock é tão atrativo que nem uma grande e demorada reforma afastaram de Bernardo Tolentino Olive o desejo de ver o seu Studio Bar ser uma referência na cidade. A casa ficou fechada por oito anos e reabriu há doze meses.“A nossa reforma demorou muito porque trata-se de refazer as estruturas de uma casa de 1943. Tivemos que refazer o projeto do quintal da casa e criar um anexo”, explica o empresário. Pelo jeito, valeu a pena, pois o Studio está sempre cheio. “Por estarmos no centro da cidade, atraímos pessoas de diversas regiões, o que faz com que nosso público seja tão variado”, diz Olive.Outro sucesso inegável da capital é o Stonehenge Rock Bar, que há nove anos atrai roqueiros dos quatro cantos da região metropolitana. Segundo Axl Henrik Ludwig, sócio-proprietário da casa ao lado de Marcelo Lins, nunca houve fase ruim em relação ao número de frequentadores ou ao faturamento. Afinalsempre vai existir quem queira ouvir o rock clássico.“O público está sempre se renovando e quem ajuda nisso são justamente os próprios frequentadores, que sempre trazem os amigos mais novos”, conta o empresário, reforçando que seu público é bastante variado em relação à idade. Ele explica também que não são os donos das casas quem define a programação, mas os próprios frequentadores. “Nós primamos pela qualidade musical das bandas, mas quem escolhe que tipo de música será tocada é o próprio público. É ele quem prefere as bandas cover”, diz.Beto Arreguy, vocalista do Hocus Pocus – a primeira banda cover de Beatles da cidade, criada há 25 anos – , conta que o movimento nas casas de rock depende da qualidade do serviço oferecido. “O Cabaré Mineiro era muito legal, mas acabou, assim como o Mister Beef. Agora o movimento voltou a ficar muito bom. Quando uma casa, mesmo pequena, faz uma coisa bem feita, acaba ficando lotada. Tem sido assim com o Jack”, explica Arreguy. Não são apenas os donos de casas noturnas que ficam felizes em ver a fidelidade dos roqueiros da cidade. Os músicos também se sentem satisfeitos em ver que há um poderoso universo rock ‘n’ roll na cidade. A maioria das bandas que circulam por este pequeno circuito belo-horizontino desfilam repertórios covers, fazendo assim com que o público possa matar saudades de seus grandes ídolos.
“A geração jovem de hoje não teve a oportunidade de assistir aos shows dos grandes nomes do rock. O cover faz com que se possa viver pelo menos um pouquinho essa sensação”, afirma Marco Aurélio Goulart, produtor de cinco bandas de rock da cidade, entre elas, Seu Madruga e Lurex. “Teve uma vez em que vi uma senhora chorar copiosamente durante um show do Lurex pois ela estava impressionada com a semelhança entre o vocalista Reinaldo e o Fred Mercury”, conta Goulart, adiantando que o Lurex estará em Londres no dia 27 março para um evento que reunirá fãs do Queen de todo o mundo.Com um repertório bastante variado, o Velotrol também conquistou um número de fãs considerável em Belo Horizonte. O baterista Daniel Mello, que largou o trabalho como administrador de empresa para se dedicar à música, afirma que gostaria de ter mais opções de lugares para tocar, especialmente no interior. “Em Belo Horizonte, acabamos tocando sempre nos mesmos lugares pois não há muitas opções. Dividimos este pequeno circuito com muitas outras bandas”, afirma.Já para o Putz Grila – cujo repertório é composto apenas por músicas do rock dos anos 80 – o problema é contrário: a agenda de shows é intensa e todos os integrantes da banda trabalham durante a semana em outras profissões. “A gente leva a música como terapia, como uma válvula de escape”, conta o vocalista André Alvarenga.Quem gostaria de ver um maior espaço para bandas autorais é Keta, vocalista do Serpente e do It´s Only Rolling Stones. “Nós começamos tocando músicas autorais. Mas na época as gravadoras estavam preferindo investir em sertanejo e axé. Assim, decidimos fazer uma banda com músicas de quem gostamos muito: os Rolling Stones. Mas no momento em que tivermos que batalhar pelo Serpente, vamos batalhar pelo Serpente”. Mas há quem esteja feliz com a receptividade do público frente ao trabalho autoral. É o caso de Gleison Túlio, que faz apresentações solo com repertório que mistura covers e músicas próprias. “Não posso reclamar, ano passado fiz uns 200 shows”, comemora o músico. Ele também faz parte também do Power trio (junto com Glauco do Tianastácia e Danilo do Falcatrua).

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Loucura matutina

PEDALANDO NA INTERNET, PEDALANDO NA INTERNET, PEDALANDO..
FRENÉTICA, ELÉTRICA, ACESA, ALUCINADA... PEDALANDO NA INTERNET
Já passaram pelo iTunes Travis, The Killers e The Beatles, até o momento

Amigos de uma sexta-feira 13

Passei hoje uma noite de sexta-feira 13 normal, prestigiando o aniversário de uma amiga, para depois parar na casa de outra amiga, no estilo fim de noite. Sem beijo na boca, sem grandes acontecimentos. Mesmo assim, tô rindo a toa. Feliz da vida porque o mínimo me diverte, desde que seja feito ao lado das pessoas que adoro. Por isso, esta postagem matutina é uma homenagem aos amigos que fizeram feliz a minha sexta-feira 13 de lua cheia:

CAROL: Difícil imaginar alguém mais iluminado... Depois do fim do meu relacionamento com o Rick, em 2004, passei a querer sair mais com as antigas amigas do Coltec, amadurecendo minha amizade com essa pessoa fantástica. Esteve ao meu lado nos meus momentos mais difíceis nos últimos três anos. E não apenas comigo. Ela faz questão de estar ao lado de todos os amigos - até mesmo dos que não merecem, diga-se de passagem. Vejo o quanto ela fica angustiada por ver coisas na minha vida darem errado (projetos, carros, paqueras... whatever) e quanto comemora com as minhas boas novas. Me chama a atenção às vezes, mas com muita elegância. Em 100% das vezes ela tem razão. Mas fazer o que? Sou mais porra-louca mesmo, é difícil realizar os conselhos do amigos... Mas com certeza a presença da Carol me ajuda a dar pelo menos um pouco de rumo à minha vida.

CLACLA: Amiga inseparável desde o início de minha solteirice - lá se vão uns 20 meses. A gente ri, se xinga, se zoa, se diverte juntas, sofre juntas. Foi no colo da Clacla que eu fui chorar quando saí da Fiat. Era a única pessoa que me ouviria sem me julgar. Acompanhei seus problemas de perto e espero não tê-la decepcionado. Não dá mais para imaginar minha vida sem essa pequena invocada. Linda, inteligente, espirituosa, geniosa, animada, amiga...

RICARDO: Nem mesmo eu entendo a identificação que sempre senti com o Ricardo. Enquanto todos o crucificaram, fiquei à margem da massa; não consegui sentir uma gota de raiva, embora descordasse de suas ações. Afinal, quem sou para julgar alguém? Erro o tempo todo e me arrependo constantemente de ações passadas. Ai se houvesse uma máquina do tempo... Tenho noções de certo e errado, passadas por mim por meus pais, minhas escolas, minha religião, minha classe social, minha cidade. Nem sempre sigo minhas próprias condutas. Enquanto há quem diga que não confia no Ricardo, acho que se eu me ver numa situação complicada hoje, não importa hora, seria o telefone dele que eu escolheria para ligar. Quem explica essa identificação?

JOJO: Diversão em pessoa. Está sempre rodeada de pessoas bacanas porque irradia energia positiva loooonge. Sua vida é dedicada ao trabalho (em que arrasa, nasceu para isso) e aos amigos, sobretudo. Sua preocupação conosco é tão grande que muitas vezes chega a sofrer com isso. A lealdade oferecida por ela a seus amigos é tão grande que dezenas de pessoas presentes em sua festa hoje poderiam apontá-la como "minha melhor amiga". Ela está no centro de várias turmas, promovendo um delicioso intercâmbio entre elas. Queria eu me sentir tão amada assim...

RAFA: Por último, o mais difícil de homenagear - metade das coisas que gostaria de dizer não poderia pois este blog não foi cadastrado para ter conteúdo adulto. O que nos une, só Freud explica. Nos cinco meses em que ficamos afastados - nos vendo de vez em quando, mas à distância -, entre agosto e janeiro, senti muito sua falta. Saudades de nossas conversas sobre livros, filmes e discos (somos tão intelectuais juntos), de nossas zoações, de nossas danças, de nossas DRs. A Creamfields não foi a mesma sem sua companhia. Quando já estava me acostumando com a distância, tudo voltou, apagando as questões do final de 2008 (que nem sei ao certo quais são, acho que nem ele) para trás. É tão bom quando nossas pirações entram em sintonia! - como foi nesta noite. E é bom ter de volta o meu companheiro de rave, Deputamadre, Lord, Jack, Studio, Mineirão, chapação e diversão, em todos os sentidos.
"We cant go on together/ with suspicious minds/ and we cant build our dreams/ on suspicious minds".

PS: LU: Antes de terminar a homenagem, não posso deixar de dizer o quanto adoro a Lu e o quanto fiquei feliz em saber que ela leu o meu perfil do Orkut inteirinho... Acho que já passou da hora de não dependermos mais do Rafa e do Barrerito para nos encontrarmos

Pedalando...

São 6h59. Cheguei em casa a poucos minutos e não tenho a menor ideia de quando o sono ameaçará chegar. Sinto-me frenética! O jeito é pedalar na Internet enquanto minha mente está a mil. Quem ficou feliz com a situação foi meu gato. Ele não está acostumado a ver sua mamãe animada e hiperacordada neste horário. Pelo contrário, nos momentos em que ele está no auge da felicidade felina, eu estou no melhor dos sonos - ou se preparando para ele.
Hoje está sendo diferente. Ramsés já ganhou beijinhos, afagos e cafunés e agora quer disputar um lugar no meu colo com o notebook. Como já amanheceu, sei que o soninho dele vai chegar a qualquer momento (vixe, já tá até fechando os olhos...) e eu vou continuar por aqui... frenética!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Frankenstein

Falar de "A Metamorfose" me empolgou um pouco. Comentar livros que nos marcaram é algo irresistível. Aproveito, então, para falar do último clássico que terminei de ler: "Frankstein", de Mary Shelley. É para ficar de queixo caído! Principalmente para quem leu a introdução da autora, nos contando como a figura do monstro se montou em sua mente enquanto tentava dormir. A autora tinha apenas 19 anos e conseguiu transmitir para uma história de terror todas monstruosidades da humanidade: o preconceito, a intolerância, o egoísmo.
O que impressiona logo de cara é a forma encontrada por ela para narrar a trajetória de Victor Frankenstein. A história é passada por meio de cartas que o capitão Walton enviava a sua irmã sobre suas aventuras no Pólo Norte. Dentro dessas cartas estará toda a narrativa do dr. Frank e dentro deste, m certo momento, a narrativa do monstro. É o texto, dentro do texto, dentro do texto. Uma sofisticação ímpar - tanto que é um dos livros mais conhecidos na história da ficção no Ocidente, principalmente, é claro, devido às suas várias versões para o cinema.
A eloquência com que o monstro fala sobre sua solidão, sobre seu sofrimento frente ao temor das pessoas quando se deparam com sua figura grotesca, é completamente emocionante. Ele é horrendo, ele é um assassino, ele é vingativo. Mas é impossível não se identificar com uma figura que gostaria de se integrar e não pode vencer a impossibilidade da convivência.
Não sei se outras pessoas partilham do mesmo sentimento, mas é mais fácil sentir empatia pelo grande vilão deste romance, do que pelo protagonista. É o dr. Frankenstein quem cria uma nova vida e a abandona sem qualquer piedade. É ele quem lhe nega a possibilidade de qualquer aproximação com a humanidade. É ele quem quer privar o monstro de qualquer forma de amor.
Em "Frankenstein", a ação é ágil, os diálogos são sofisticadíssimos, as entrelinhas são infinitas.

Primeiro contato

Acredito que a primeira coisa a se fazer frente ao primeiro contato com este blog é explicar porque decidi fazer uma referência a Greg Samsa e sua metamorfose.
Dá para contar nos dedos quantos escritores me impressionaram da forma com que Franz Kafka fez. A revolução literária promovida pelo gênio tcheco é facilmente compreendida quando se percebe em suas histórias surreais o debate sobre angústias e questões inerentes ao ser humano.
Ler "A Metamorfose" é uma experiência fora do comum: ao mesmo tempo em que nos deparamos com uma enorme dificuldade em se transformar aquelas palavras em imagens particulares, é impossível não se identificar com um homem que se vê isolado da humanidade ao se metamorfosear em um inseto gigante.
Para quem nunca leu, "A Metamorfose" é um famoso conto sobre um homem que, depois de uma noite mal dormida, acorda e percebe que se transformou em um inseto repugnante. Todas as passagens seguintes tratam dos problemas de auto-aceitação e da dor em se sentir não aceito.
Pode ser uma viagem minha e de várias outras pessoas por aí, mas a metamorfose de Samsa é uma metáfora para a relação entre um homem e suas angustias. Afina, quem nunca se sentiu transformado em um ser grotesco?
"Ok, Cinthya, você gosta do livro, mas o que ele tem a ver com o blog?"
Decidi escrever publicamente porque esta é a minha principal maneira de me afastar de um complexo de Greg Samsa. Não quero acordar e sentir que sou um inseto gigante (no caso, para mim, metáfora para o meu maior medo: a mediocridade), fadado a viver confinado em seu quarto escuro. Escrever me permite libertar-me de minhas próprias controversas. Me ajuda a colocar (um pouco) em ordem sentimentos e pensamentos.
Quando saí do jornal O Tempo, há quase dois anos, sob um dos piores episódios por mim vivenciados, senti que o desejo de escrever havia sido apenas fantasiado por mim. Durante meses, procurei ser uma pessoa normal, capaz de encarar um trabalho mais burocrático, onde o desejo por escrever profissionalmente não me obrigasse a ficar calada frente a fatos com os quais não concordava.
Mas desde o começo do ano comecei a sentir saudades da escrita. Agora, me ver dentro de uma redação de jornal novamente (mesmo que seja por apenas um mês), me fez ver que não adianta tentar criar uma Cinthya diferente. Nunca serei Mario Prata, Kakfka ou um Saramago - não saberia ser nem mesmo um Paulo Coelho - mas isso não quer dizer que o que será postado de agora em diante neste blog seja desperdiçado.
Quanto mais escrever, mais a figura do gigante inseto será afastada. E esta Samsa terá um final bem menos sombrio.