terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Slumdog

Muitos já compararam "Quem quer ser um milionário?" (Slumdog Millionaire) com "Cidade de Deus" e venho fazer coro. Edição dinâmica, exibição da miséria humana, cenas chocantes, momentos engraçados... são muitas características que unem esses dois ótimos filmes.
Esqueça a Índia maquiada (e chatíssima) de Glória Perez, onde os conflitos se resumem às diferenças de classes. Em "Slumdog", todo o podre presente na periferia da Índia (e de tantos outros países) se estampa. Mas Mumbai poderia ser São Paulo, Rio de Janeiro, Recife ou Belo Horizonte. A favela do filme pouco se diferere das nossas. Os dramas de Jamal, o protagonista, são idênticos ao de qualquer garoto pobre brasileiro. O desenvolver da história de Jamal, porém, só existe na ficção.
Como já havia dito numa postagem anterior, Danny Boyle é fantástico. Seu sucesso está em fugir dos padrões de "cinemão" hollywoodiano e empregar juventude aos seus filmes. Saem violinos e orquestras (que o Spielberg usa além do que deveria, convenhamos), entram músicas bacanérrimas, sempre com um pezinho no que há de mais novo no cenário indie ou eletrônico.
O sucesso de bilheteria de "Slumdog" no Brasil é certo - ainda mais com a melhor propaganda possível: trata-se de um filme independente vencedor de oito Oscar. O longa vai agradar a gregos e troianos, pois não subestima nossa inteligência em nenhum momento e, ao mesmo tempo, não é nada intelectualóide.
Entendo porque tenha sido tão odiado na Índia. Não é fácil para eles ver um diretor britânico expor suas mazelas de forma tão escancarada. Ainda mais porque a noção de cinema deles é bastante diferente. Os filmes de Bollywood contam histórias palatáveis e são sempre recheadas (e põe recheadas nisso) de canções, afinal a indústria do cinema está diretamente relacionada à fonográfica. Assisti a alguns filmes indianos no festival Imagem dos Povos de 2006, em Ouro Preto. Meu Deus! Vocês não imaginam o quanto aqueles filmes são chatos! Eles têm mais de três horas de duração e nos colocam frente a uma overdose de músicas e danças - até mesmo numa versão de "Macbeth"! O cinema feito lá é totalmente o oposto do nosso. No Brasil, temos a estética da pobreza (e não estou usando um tom pejorativo, eu acredito num cinema crítico), enquanto eles têm a estética das cores e das sonoridades. Fico pensando se eles iriam gostar desta novela insuportável que está no ar agora.
Por sinal, Glória Perez se superou, conseguiu fazer algo mais chato que o "O Clone" e "América".

2 comentários:

  1. Tenho certeza de que esse filme será um sucesso, embora eu ache vou vê-lo depois de ele estrear no Telecine, mas enfim... Boyle é um diretor e tanto, o único pecado da vida dele foi " A Praia", que sei que vc gosta mas eu odeio.

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  2. Hahahaha! Adorei a frase final '"Por sinal, Glória Perez se superou, conseguiu fazer algo mais chato que o "O Clone" e "América".'

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