quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Primeiro contato

Acredito que a primeira coisa a se fazer frente ao primeiro contato com este blog é explicar porque decidi fazer uma referência a Greg Samsa e sua metamorfose.
Dá para contar nos dedos quantos escritores me impressionaram da forma com que Franz Kafka fez. A revolução literária promovida pelo gênio tcheco é facilmente compreendida quando se percebe em suas histórias surreais o debate sobre angústias e questões inerentes ao ser humano.
Ler "A Metamorfose" é uma experiência fora do comum: ao mesmo tempo em que nos deparamos com uma enorme dificuldade em se transformar aquelas palavras em imagens particulares, é impossível não se identificar com um homem que se vê isolado da humanidade ao se metamorfosear em um inseto gigante.
Para quem nunca leu, "A Metamorfose" é um famoso conto sobre um homem que, depois de uma noite mal dormida, acorda e percebe que se transformou em um inseto repugnante. Todas as passagens seguintes tratam dos problemas de auto-aceitação e da dor em se sentir não aceito.
Pode ser uma viagem minha e de várias outras pessoas por aí, mas a metamorfose de Samsa é uma metáfora para a relação entre um homem e suas angustias. Afina, quem nunca se sentiu transformado em um ser grotesco?
"Ok, Cinthya, você gosta do livro, mas o que ele tem a ver com o blog?"
Decidi escrever publicamente porque esta é a minha principal maneira de me afastar de um complexo de Greg Samsa. Não quero acordar e sentir que sou um inseto gigante (no caso, para mim, metáfora para o meu maior medo: a mediocridade), fadado a viver confinado em seu quarto escuro. Escrever me permite libertar-me de minhas próprias controversas. Me ajuda a colocar (um pouco) em ordem sentimentos e pensamentos.
Quando saí do jornal O Tempo, há quase dois anos, sob um dos piores episódios por mim vivenciados, senti que o desejo de escrever havia sido apenas fantasiado por mim. Durante meses, procurei ser uma pessoa normal, capaz de encarar um trabalho mais burocrático, onde o desejo por escrever profissionalmente não me obrigasse a ficar calada frente a fatos com os quais não concordava.
Mas desde o começo do ano comecei a sentir saudades da escrita. Agora, me ver dentro de uma redação de jornal novamente (mesmo que seja por apenas um mês), me fez ver que não adianta tentar criar uma Cinthya diferente. Nunca serei Mario Prata, Kakfka ou um Saramago - não saberia ser nem mesmo um Paulo Coelho - mas isso não quer dizer que o que será postado de agora em diante neste blog seja desperdiçado.
Quanto mais escrever, mais a figura do gigante inseto será afastada. E esta Samsa terá um final bem menos sombrio.

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