segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

"2001"

Era um tradicional fim de semana sem grana no primeiro ano de faculdade - há dez anos. Eu e Elisa, amiga que morava comigo, pegamos emprestado uns filmes com a Lígia e decidimos vivenciar um "fim de semana de ficção científica". Na noite de sábado, era a vez de "2001"; no domingo, veríamos a trilogia antiga de "Star Wars".
Já sabíamos que "2001 - Uma Odisséia no Espaço" era especial, um marco na história do cinema, mas não imaginávamos que o impacto seria tão grande. No final, as duas boquiabertas só conseguiam repetir: "Meu Deus, o que é isso?" Foi naquela noite de sábado sem grana que me apaixonei pelo cinema de Stanley Kubrick. Depois disso, me surpreenderia ainda com "Laranja Mecânica", "Lolita", "Dr. Fantástico" etc. etc.
Muitas pessoas não entendem meu fascínio por "2001". Dizem que o filme é muito chato. Concordo que ele seja parado, mas isso não é sinônimo de chato. Não se trata de um filme de ação de George Lucas (que eu também adoro), mas a visão do cineasta mais brilhante de todos os tempos sobre a evolução do homem e sua tecnologia - consequentemente, a história de seus piores sentidos. O homem surge quando o macaco vê que é capaz de matar um semelhante; o homem se aperfeiçoa quando cria uma máquina capaz de pensar, sentir, se vingar, matar.
Para se entender a importância de "2001" o espectador não pode deixar de levar em conta o momento em que o filme chegou às telas do cinema: em 1968, pouco antes do homem colocar os pés na Lua. A riqueza de detalhes, a forma com que tudo foi pensado cientificamente, o design das naves, são verdadeiramente impressionantes. É tudo tão perfeito que só percebemos a idade do longa-metragem ao observar as roupas dos personagens - tem um personagem sem importância que usa um terno xadrez!
O embate emocional entre HAL 9000 e Dave no final é antológico. O computador pode ter adquirido qualidades e defeitos humanos ao ganhar alta inteligência, mas o homem ainda tem como armas a sagacidade e a experiência de vida. Mas o maior impacto para mim ( e pelo que me lembro, para a Elisa também) foi aquela grande viaaaaaaagem do Kubrick sobre Dave chegando a Júpiter. Na primeira vez em que vi aquilo pensei: "por que estou vendo este filme sóbria?" Se tivesse tomado umas três latinhas durante o filme, certamente teria chegado a Júpiter com o astronauta... E o neném? Surreal!... Sem falar nos primeiros 15 minutos do filme. A prova de que se pode fazer cinema sem falas ou música.
Para quem ficou com aquela sensação de não entendi nada (suuuuupernormal), o livro é bem menos traumático. Lembro-me pouco dele (dez anos é muito tempo para a minha memória), mas posso dizer que é bem mais explicativo e é mais claro o final dado ao Dave em Júpiter. Muito bom, diga-se de passagem. Não saberia dizer se o inteligentíssimo e visionário Arthur C. Clarke (morto no ano passado) escreveu outros bons livros, pois não li mais nenhum. Mas só o livro e o roteiro de "2001" já são suficientes para colocá-lo num posto de mestre da ficção científica.
Certamente falarei mais de Stanley Kubrick neste blog. Pode-se passar horas a fio falando deste cineasta, que o assunto nunca se esgota.

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