sábado, 24 de outubro de 2009

Adorei ler (1)

Decidi ler "Dom Casmurro" tardiamente, aos 19 anos. Ainda bem. Enquanto muitas pessoas tiveram contato com o livro por obrigação, no período escolar, eu o fiz por escolha, por entender que não podia ser uma jornalista de qualidade sem conhecer a obra apontada sempre como a mais importante da literatura brasileira.
E o livro de Machado de Assis realmente foi um acontecimento em minha vida. Quando o terminei, quis sair ligando para os amigos, para conversar sobre as minhas impressões - não tão convencionais. Encerrei a leitura com a certeza de que pouco importava a traição de Capitu. O livro pouco revela sobre ela (só temos acesso à subjetividade do narrador). Na verdade, o texto traz informações paupáveis sobre um único personagem: Bentinho. E é sobre ele que descorrem vááários teóricos em dissertações e teses mundo afora.
Primeiramente, tive plena sensação de que Bentinho, além de neurótico (isso é claro para todos), não tinha ciúmes de Capitu, mas sim inveja. O amor e a admiração demonstrada por Escobar em várias passagens são bastante intrigantes e deixaram uma pulga bem grandinha atrás da minha orelha. E o autor é Machado de Assis, ou seja, sempre há algo nas entrelinhas. Sempre.
Quantos homens, na virada do século XIX para o XX, teriam foto do melhor amigo em trajes de banho na sala, junto ao da querida mãe? E as descrições feitas pelo narrador em relação ao amigo, sempre evidenciando seus dotes físicos? Isso não quer dizer necessariamente uma paixão homossexual, mas certamente a admiração que Bentinho sentia por Escobar era algo bastante forte e relevante na história. Talvez fosse uma admiração nutrida pelo desejo de ser aquele homem, diferente de um inseguro Dom Casmurro, marcado pela superproteção materna.
As discussões sobre Bentinho são múltiplas. Tá aí a genialidade da obra. Antes do mundo conhecer a psicanálise e as novas vertentes da psicologia, Machado de Assis explorava uma personalidade extremamente complexa e nos dava pistas sobre como podemos compreendê-la.
Gosto de ser autêntica, mas neste caso não tem jeito. Assim como quase todos os críticos literários do Brasil, acho que "Dom Casmurro" é o número 1 de qualquer lista de melhores livros.

Um comentário:

  1. A melhor coisa pra se gostar deste livro é lê-lo sem compromisso, assim como você fez. A escola,nesse sentido, mata a leitura.

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