domingo, 25 de outubro de 2009

Adorei ler (3)

Não sei se um autor mexeu tanto comigo quanto José Saramago. Não me canso de ficar impressionada com a genialidade deste senhor ateu, marxista e português. A leitura de seus livros não oferece uma dificuldade tão grande quanto "Grande Sertão" ou "Os Sertões", mas admito que pede uma dedicação intensa.
Saramago é criador de uma forma única de narrativa que muitas vezes pode assustar o leitor. Eu o conheci por meio de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", uma obra-prima impressionante, que fez o meu queixo cair a cada capítulo lido. Saramago é o maior ateu da atualidade e, mesmo assim, um dos maiores conhecedores da Bíblia que existem sobre a Terra. Neste livro, o autor subverte todos os acontecimentos do Novo Testamento ao humanizar a figura de Jesus Cristo. Impossível não se intrigar com as dúvidas do filho de Deus e das motivações de seu pai. Marcante também a maneira com que ele constrói Maria Madalena, a verdadeira santa do seu livro. Não foi nada fácil terminar "O Evangelho", mas valeu muito a pena ser persistente.
Quando parti para outro livro de Saramago, a leitura foi bem mais tranquila. Já estava acostumada com a estrutura de seu texto e com sua forma de expor o pensamento sobre o mundo. A obra, porém, não era tão genial quanto "O Evangelho", embora fosse também muito intrigante. "As Intermitências da Morte" é um ensaio curiosíssimo sobre o que aconteceria no mundo caso a morte entrasse em greve.
"O Ensaio sobre a Cegueira" foi puro deleite, mesmo sendo um livro que causa repugnância a qualquer leitor. Com a simples ideia de como seria o mundo se todos, de repente, ficassem cegos, Saramago fez um ensaio sobre tudo o que há de mais podre na humanidade. Não foi à toa que Fernando Meirelles teve de cortar cenas fortes de seu filme, pois seria muito complicado ter sucesso nas bilheterias com um teor tão obscuro.

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