domingo, 31 de maio de 2009

Buenos Aires e as minhas intensas saudades



Esta semana lembrei muito da melhor viagem que já fiz.


No ano retrasado, vivi um momento dificílimo na minha vida. Em menos de uma semana, saí do jornal O Tempo de uma forma conturbada e levei um fora do homem com que vivi um relacionamento de dois anos. A depressão foi profunda. O remédio, segundo o psiquiatra, era viajar para onde esses assuntos seriam esquecidos temporariamente.

Minha amiga Claudinha - o anjo que Deus colocou em minha vida para me orientar - me convidou a ir a Buenos Aires horas depois dom édico ter me receitado uma viagem. Aceitei prontamente.

Que loucura ir a um país diferente, mesmo que ele esteja ali ao lado. Foi a primeira vez de verdade em que saí do Brasil - o dia em que pisei no Uruguai, aos três anos de idade, não conta. No aeroporto, já achei difícil entender o que o cara da alfândega me disse. Mas compreendi bem: não trocar o dinheiro todo no aeroporto, onde o câmbio é desfavorável. Trocar somente o necessário.

Fui ao hostel em que a Claudia ficaria - cheguei à capital argentina umas 12 horas antes dela - na cara e na coragem. Para aquela noite, havia vaga. Para o resto da semana, não. Assim, dormi ali aquela noite e, no dia seguinte, já procurei por uma cama no hostel que havia dois andares acima.

Nos primeiros momentos, quanta timidez. Só havia meninos no local e todos eles se conheciam, conversavam entre si. Eu ali quietinha, observando aquela mistura de línguas e sotaques, sem saber o que fazer. Nunca havia estado em um albergue antes, não sabia como me comportar. Bom, o melhor era tentar dormir.

No outro hostel, fiquei em um quarto com um nova-iorquino. Meu inglês estava tão enferrujado que falei coisas que deixariam meus ex-professores envergonhados. Ao pedir um adaptador de tomada emprestado, usei o verbo "to buy". Demorei horas para perceber que tinha, na verdade, perguntado a ele se podia comprar o objeto... Mas o rapaz foi bastante simpático e não pareceu ligar para a minha comunicação permeada de defeitos.

Logo já quisemos conhecer o centro a cidade, ir atrás do tal local onde poderia trocar meu dinheiro. Nada como uma região central para se ver uma cidade em sua verdade. À noite, corremos para um bar 24 horas da região de Palermo - onde voltamos pelo menos mais duas vezes em uma única semana! Lá conhecemos um ex-funcionário da Casa Branca gato e bacana. Adoro conversar com americanos de mente aberta! Ele foi minha primeira paixão da viagem.

A segunda paixão viria depois. O nova-iorquino foi embora e logo aportou em meu quarto um novo rapaz. Seu nome era Christian. Era um austríaco de ares tímidos com quem me identifiquei prontamente. Não me lembro ao certo como começou nossa amizade, só sei que logo já planejávamos passeios pela cidade. Nos três dias seguintes, seríamos inseparáveis. Enquanto isso, a Claudia fazia amizade com o pessoal do primeiro andar, especialmente com uma suíça fofíssima.

A terceira paixão viria num café da manhã. Não lembro quem puxou assunto com quem, só sei que quando me dei conta, estávamos eu, Christian e dois alemães conversando animadamente na mesa de café. Logo convidei os rapazes: "estamos indo a Bombonera. Querem vir?" O Tobias, um alucinado por futebol, não pensou duas vezes. E o futebol provocaria uma grande aproximação entre nós dois. O passeio pelo bairro do Boca foi um momento auge na viagem.

Nossa turma crescia, havia muito integração entre as pessoas, cada uma de uma nacionalidade. À noite, na hora de assistir a uma apresentação de tango, fiquei em uma mesa onde havia dois alemães, uma suíça, um galês e uma australiana. Experiência única. Ainda tivemos contato com argentinos, uruguaio, israelenses, britânicos, etc etc.

As minhas companhias preferidas - além da Claudinha, é claro - eram Christian e Tobias. O primeiro me impressionava pela educação (ele é certamente o homem mais cavalheiro que já conheci em minha vida) e pelo ar de mistério. O segundo me encatava por sua beleza, inteligência, carisma... seria que teria alguma chance com ele? O Timo, também alemão, chamava a atenção por ser engraçado. Chegou até a vestir a minha calça de pijama (cheia de elefantinhos) só para fazer a gente chorar de rir.
Como no Brasil, as coisas se resolvem é na boate. Foi nela que, depois de mais de duas horas de dança e flerte, perguntei ao Tobias: "você pretende me beijar?" Que realização! Beijei o alemãozinho de olhos cor do céu!
Depois de uma semana de bagunça e descobertas constantes, dormindo três horas por dia, voltei ao Brasil. Mas a história não acabou. Os alemães aceitaram o meu convite e vieram a Belo Horizonte, trazendo a tira colo a queridíssima Lea. Tivemos uma semana maluca, com direito a jantar da mamãe e muitas festas. Em seguida, o austríaco Christian apareceu do nada em nossa cidade. Fui resgatá-lo em um albergue e o levei para minha casa. O que era para ser uma passagem de três dias virou uma estadia de dez dias. Quando ele se foi, chorei de saudades.
Essas pessoas me fizeram muito feliz por alguns dias. E as agradeço muito por isso. Pena que não falam português e não podem ler esse texto que dedico aos gringos que amei por um mês.


Um comentário:

  1. Quase morri de saudade da nossa viagem e de nossos amigos gringos, meu bem, ao ler seu texto... SAUDADE, SAUDADE, SAUDADE... Que bom ter vivido tudo isso com vc. Fui revivendo agora, a cada frase. Obrigada por me lembrar o quanto foi bom tudo! Bjos!

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