quinta-feira, 18 de março de 2010

Árvore da vida

Segue reportagem minha sobre o projeto social da Fiat Árvore da Vida, publicada ontem no Hoje em Dia.
Conheci o projeto de perto há dois anos, quando trabalhei de forma indireta para a montadora. Acho que ele pode crescer muito ainda, mas com certeza já faz muita diferença na vida de algumas pessoas que vivem em um dos bairros mais violentos da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Ações mudam vida de bairro

Há três décadas, a Fiat anunciou a implantação de uma fábrica em Betim. O fato causou um grande impacto socioeco-nômico: centenas de pessoas de todas as partes de Minas Gerais e do país mudaram-se para a cidade da Região Metropolitana, com esperança de conseguir emprego com carteira assinada na fábrica da montadora italiana. Mas a procura por vagas sempre foi maior do que a oferta e, aos poucos, foram crescendo bairros pobres no entorno da fábrica. Com altos índices de violência, o Jardim Teresópolis e a Vila Recreio se tornaram casos de vulnerabilidade social. No início desta década, a diretoria da Fiat compreendeu a importância de mudar a
realidade da região e realizou um estudo para diagnosticar as características socioeconômicas dos moradores dessas comunidades e partir para ação, buscando a promoção da inclusão social. Com os dados em mãos, a montadora estabeleceu parceria com as ONGs Fundação AVSI e Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana (CDMH) para a criação de um programa de ações socioeducativas, que visassem diminuir os problemas sociais da região (por exemplo, o fato de que 40% dos cerca de 7 mil jovens de 16 a 24 anos não possuíam nenhuma formação profissional).
Assim, em 2004, nasceu o Árvore da Vida, que conta também com um grupo de parceiros, denominados Rede Fiat de Cidadania, formado por instituições públicas e um conjunto de empresas privadas para o desenvolvimento e apoio nas realizações das atividades em prol da melhoria da qualidade de vida da região. O programa está divido em três frentes de atuação: atividades socioeducativas, geração de trabalho e renda e fortalecimento da comunidade.
"No início do Árvore da Vida, tínhamos dois desafios: estabelecer relacionamento mais próximo com a comunidade vizinha, que se constituiu ao longo de três décadas, e permitir que ela se desenvolva de forma independente, criando mecanismos para melhorar os índices de vulnerabilidade desses bairros", afirma a coordenadora da Área de Relacionamento com a Fiat, Ana Veloso. Segundo ela, a diretoria da montadora percebeu que o caminho para a resolução dos problemas sociais era criar ações nas área de educação e encaminhamento para o mercado de trabalho, gerando empregabilidade na comunidade.
No programa são oferecidas atividades esportivas, oficinas de canto, dança, percussão, memória e história, reforço escolar, alfabetização, formação humana às crianças e adolescentes entre 12 e 16 anos e acompanhamento familiar e escolar. Visando a geração de trabalho e renda, o Árvore da Vida desenvolve também atividades em prol da melhoria da empregabilidade a partir de cursos de capacitação profissional e encaminhamento ao mercado de trabalho, além de manter um Centro de Referência ao Trabalhador, onde os moradores recebem orientações sobre elaboração de currículos e postura em entrevistas, além de ter acesso a livros, periódicos e ofertas de emprego de acordo com suas habilidades. Em parceria com o Isvor, o programa oferece cursos de eletromecânica, eletroeletrônica e funilaria para vagas presentes em concessionárias da Fiat. Dos 102 jovens formados em cursos de formação profissional no setor automotivo, em Betim, entre 2006 e 2009, 88 deles estão inseridos no mercado de trabalho, ou seja, 86%.
No final do ano passado, 191 jovens das oficinas de memória e história, canto, dança e percussão participaram do CD infantil e espetáculo "Árvore da Vida apresenta A Zeropeia", produzido pelo músico Flávio Henrique do Studio Via Sonora. Baseado no livro "A Zeropeia", escrito pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, o espetáculo foi apresentado, entre outros locais, no Teatro Izabela Hendrix e no evento de Natal Vila dos Sonhos da Coca-Cola.
A pré-adolescente Bruna Poliana Rodrigues da Silva, 12, é uma das beneficiadas pelo Árvore da Vida. Há um ano e meio, a garota participa das oficinas de dança folclórica e contemporânea. "Gosto muito das minhas aulas, não falto a nenhuma. Sinto que, depois que passei a frequentar a oficina, houve uma mudança no meu comportamento, agora sou mais comunicativa ao lidar com as pessoas. Agora, não fico mais em casa pensando besteira, mas aproveitando bem o meu tempo", diz a aluna da 6ª série, que pretende fazer cursos de capacitação no futuro.
Moradores estão mais articulados
Um dos principais objetivos do Árvore da Vida na atualidade é trabalhar o empoderamento dos moradores do Jardim Teresópolis, para que o desenvolvimento so-cioeconômico da região seja permanente. Em 2009, foi formalizada a criação de uma rede de gestores locais, que tem conquistado importantes resultados a partir da articulação entre empreendedores do bairro, poder público e Rede Fiat de cidadania.
"Eles saíram da fase do diálogo e partiram para ações concretas. Criaram uma rádio comunitária e estão se articulando para pedir a instalação de uma agência bancária e uma agência dos Correios no bairro. No Natal passado, os comerciantes se juntaram, compraram uma máquina de lavar roupas para um sorteio entre as pessoas que comprassem nas lojas do Jardim Teresópolis. Foi uma maneira de incentivar as pessoas a fazerem suas compras ali e não no shopping", conta Ana Veloso. Essa articulação entre os empresários aconteceu depois que o Árvore da Vida passou a promover um curso básico "Empreendedorismo".
Depois de cinco anos de programa, ainda não há pesquisa completa sobre seu impacto na comunidade, mas alguns resultados já podem ser percebidos no Jardim Teresópolis. "Os números das nossas pesquisas ainda não estão disponíveis para divulgação, mas sabemos que aumentou a sensação de segurança entre os moradores. Isso se deve não apenas ao programa, mas também às ações promovidas pela Prefeitura de Betim. Conversando com as lideranças locais, também percebemos que há agora uma relação mais franca, respeitosa e confiante entre a comunidade e a Fiat", afirma Ana. Ações multiplicadas
Entre os vários braços do programa social Árvore da Vida, a Cooperárvore merece destaque. Formada por 23 moradoras do Bairro Jardim Teresópolis, desde 2004 a cooperativa cria objetos artesanais a partir de materiais recicláveis vindos, em boa parte, da Ilha Ecológica da Fiat e de seus fornecedores. Bolsas, chaveiros, almofadas, jogos e camisetas são alguns dos produtos confeccionados dentro do projeto, que nasceu com o objetivo de ser fonte de geração de trabalho e renda para a comunidade do entorno da fábrica."Nossa linha de produtos sempre conta com materiais reaproveitados. Alguns deles vêm da Fiat, como cintos de segurança ou tecido automotivo, outros nós mesmas compramos, como couro, tecido de algodão ou tecido produzido a partir de garrafas PET", afirma a gerente da Cooperárvore, Luciana de Freitas. Ela explica que as cooperadas trabalham em casa ou no galpão localizado junto à sede do programa Árvore da Vida e recebem o pagamento de acordo com o número de produtos fabricados.
Os principais clientes da Cooperárvore são todas as empresas da Rede Fiat de Cidadania (Fiat Automóveis, seus fornecedores e concessionárias), que encomendam brindes durante o ano todo. Mas a empresa já tem conseguido conquistar novos horizontes. A Speciosa de Moraes Soares, representante de artesanato em Berlim, na Alemanha, encomendou 200 produtos da cooperativa, como capa para notebooks, bolsas femininas, necessaries e chaveiros, feitos com tecido automotivo e cintos de segurança. Esse acordo é uma consequência da participação da Cooperárvore no Salão do Artesanato, realizado em agosto do ano passado para importadores e lojistas. No ano passado, a Cooperárvore participou de 27 eventos, entre eles duas grandes feiras: Conexões Solidárias e Feira Nacional do Artesanato, no Expominas. A cada ano, novos produtos são desenvolvidos por um designer. Em 2010, a coleção tem como tema os pássaros, estampados em bolsas, almofadas e mochilas esportivas. Em 2009, 19.679 peças foram produzidas pelas cooperadas.
Iracema Pereira Costa Salgado, 49 anos, é uma das 23 cooperadas que viram suas vidas transformadas depois que passaram a trabalhar no Árvore da Vida. Há seis anos, ela era uma dona de casa que tentava se livrar de depressão. Hoje, com o trabalho e o contato com as amigas, ela se sente realizada. "Com o dinheiro que recebo, comprei uma máquina de costura e uma terrinha em Mateus Leme, junto com meu marido. Esse trabalho me colocou para cima, estou com uma autoestima muito maior", afirma a cooperada.
Iracema ainda fez questão de levar toda a família para participar do Árvore da Vida. Sua filha caçula, Daiane, 19 anos, acaba de se integrar à Cooperárvore. A filha do meio, Shirlei, 23 anos, fez curso de qualificação no programa e hoje trabalha como secretária na PUC Betim. Seu filho mais velho, Alcides, 24 anos, conseguiu um emprego na fábrica da Fiat depois de concorrer a uma vaga, munido de carta de recomendação dos coordenadores do Árvore da Vida. "Engajei meus filhos, e agora nossa família está muito bem estruturada. O programa está sendo uma experiência maravilhosa em nossas vidas", resume.
Voluntários engajam a comunidade
Além de trabalhar a inclusão social por meio de cursos e oficinas, o Árvore da Vida busca o fortalecimento da comunidade, ao incentivar encontros periódicos com lideranças e gestores locais. O objetivo é torná-los cada vez mais aptos a serem instrumentos para a melhoria permanente do desenvolvimento e da qualidade de vida na região. Desde a implantação do programa, foi formado um grupo de referência, uma rede social com voluntários do próprio bairro que fazem uma ponte entre o programa e a comunidade. Nas reuniões realizadas mensalmente, os participantes recebem as informações a serem transmitidas aos moradores e definem as estratégias de comunicação. Outra ação desenvolvida para fortalecer a comunidade é a promoção de cursos para
gestores comunitários, como os diretores de escolas. Os participantes aprendem a elaborar e executar projetos de interesse para a comunidade em diversas áreas, como saúde, educação e trabalho.
A empresária Ester Pinto de Oliveira Guimarães, 62 anos, faz parte do grupo de referência. Dona do restaurante Fogão de Minas, ela se sente realizada em participar ativamente do Árvore da Vida. "Gosto muito de interagir com as pessoas, de lidar com o público. Vi no grupo uma maneira de estar mais próxima da comunidade. É uma grande alegria ver que posso contribuir para minimizar as necessidades e as dores dos outros", conta Ester, que pretende ministrar um curso de culinária no Árvore da Vida, voluntariamente.
A empresária e seu marido, Roberto Guimarães, fizeram parte da primeira turma do curso de empreendedorismo do programa e agora usam o que aprenderam em seu negócio. "Temos o restaurante há 18 anos e, com as aulas, vimos que sempre podemos melhorar algumas coisas em nosso empreendimento", conta.

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