domingo, 8 de março de 2009

Maternidade

Segunda-feira. Depois de uma noite mal dormida, encaro o tal pacote comprado no dia anterior. A tarefa é simples, mas parece complicadíssima. Ok. Basta fazer xixi no micropotinho e colocar ali a tal fitinha. Mas qual é o lado certo mesmo?
Na bula, fala-se em cinco minutos. Bastaram dois. Dois tracinhos rosas = positivo. Tremedeira, suadouro, arder no rosto, vergonha, vontade de voltar no tempo... o medo se concretizou. "Fazer o que... o jeito é seguir em frente", disse minha irmã. "Não, necessariamente", respondi. Dei a notícia ao outro interessado uma hora depois - uma hora bem longa, diga-se de passagem. Meu corpo tremia em todas suas extremidades enquanto dizia o que parecia brincadeira de mau gosto. Eram apenas 8h30 da manhã e o mês de março acabava de começar.
Combinamos de conversar à tarde, depois do meu trabalho, quando eu já teria o exame definitivo nas mãos.
Meu primeiro gasto como mãe: R$ 24 no cartão de crédito para o exame no Hermes Pardini. Resultado: Mais de mil (quem já viu um exame de gravidez sabe do que estou falando).
Sentamos no bar. "Preciso de saber de você. Eu não quero", afirmei. Sabia que ele não queria isso de jeito nenhum, senti necessidade de estar na mesma posição. "O que você decidir, vou te apoiar", ele respondeu, logo discursando sobre as impossibilidades dessa gravidez.
Ouvi atentamente, dando muita importância aos sentimentos dele. Em resumo, não poderíamos encarar algo assim, ambos sem grana, por causa de uma inconsequência de bêbados. Prometemos pensar na melhor forma de tirar, sem que eu corresse riscos.
No dia seguinte, ele me falou do Cytotec. Nem vou falar das coisas horríveis que li sobre este remédio na internet. Certamente essa não era uma opção. Em poucas horas, eu mesma descobri uma boa clínica e ele foi conferir se ela era boa. Sim, era segura e o procedimento foi marcado. Ali começava meu martírio.
Ok. Concordei com a opção que manteria minha vida do jeito que é. Mas o sofrimento foi muito grande. Somente outra mulher para entender. Tonturas e enjoos me diziam: existe uma vida dentro de você! E por mais que tudo indicasse que o melhor seria tirar, não consegui optar pela não vida. Não sei brincar de Deus, não quero escolher se alguém deve viver ou não. Se isso seria um assassinato, não sei, mas sentia que estava caminhando para isso.
A dúvida me perseguiu em cada minuto do meu dia. Mas senti a decisão se confirmar ao ver um tradicional pulo do Ramsés, meu gato, na minha cama. Ele se aproximou, pediu carinho, deitou ao meu lado - como acontece todos os dias. O amor que sinto por este pequeno ser me bateu de forma diferente: se amo incondicionalmente um gato desde o nosso primeiro dia juntos e isso me faz muito bem, imagine o amor que sentirei ao estar com meu filho, com alguém gerado no meu útero, com meus genes, que será amamentado em meus seios e tomará meus pensamentos pelo resto da minha vida.
Na quinta-feira, anuncio ao outro interessado a minha mudança de opinião. Sou corajosa e quero ter esta criança, apesar de todas as questões. Ele não concorda e faz o possível para me convencer a mudar de ideia. Não é mais possível, estou atisfeira com minha decisão. Nossas amigas tantam fazê-lo entender a minha posição, mas não tem jeito, ele já foi corroído por um extremo ódio por mim. Por minha causa, ele deverá rever seus gastos, por minha causa, ele terá que encarar "namorada" e família.
O apoio veio de vários lados. Minha mãe, minha irmã, minhas amigas. E acabo de receber um e-mail maravilhoso do meu pai, contando que, quando eu nasci, ele devia em três bancos e pôde contar com meu avô Joaquim para o meu nascimento - na Santa Casa de Itapetininga. Assim como ele contou com o sogro, eu posso contar com meu pai. Mais uma vez.
Estou decidida a não chorar mais, a não ter mais dúvidas. Agora devo continuar em busca de trabalhos, ir à faculdade, fazer um pré-natal bacana e sonhar com o meu futuro ao lado do Joaquim (se for menino, terá boas chances de receber o nome do meu avô). Ser mãe solteira não me assusta mais: minha amiga mais antiga nem mesmo conheceu seu pai, e nem por isso deixou de ser amada pela família e ser muito feliz. Ela é minha inspiração.
Sei que serei repreendida por expor publicamente essa minha história porque a outra pessoa ainda tem este fato como um segredo. Mas quer saber, embora ele tenha protagonizado meus desejos nos últimos 19 meses, ele não interfirirá mais em minhas decisões. Espero continuar a vê-lo como um amigo querido. Assim como compartilhamos boas emoções na intimidade e nas mais diferentes pistas de dança, quero compartilhar os momentos mais emocionantes que virão. Afinal, a partir de agora, minha maternidade não é mais uma questão; é, sim, um estado de felicidade.

9 comentários:

  1. nhowwww. desejo tudo de melhor pra vc e pro seu bebê!

    : )

    beijo

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  2. Engraçado.. meu avô também se chamava Joaquim.

    No mais, não me resta dizer nada além de "parabéns pela sua maternidade " e o bom e velho "´pode contar comigo sempre"!


    Felicidades!

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  3. Parabéns pela coragem em expor a todos sua angústia. Tenha muita sabedoria e responsabilidade a partir de agora. Grande beijo!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Ai que lindo!! O texto e a decisão!!
    Desejo toda felicidade do mundo!!

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  6. Cy, faz tempo que não falamos, mas sempre te admirei pela força e pela coragem. Com certeza, tudo dará certo para vc e o seu baby que está por vir. Quando vier para SP, apareça...
    Bjks
    Vivian

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  7. Ó meu avô também se chamava Joaquim.

    Bom garota, sorte nessa empreitada. É um caminho duro, você tem que estar ciente disso. Mas se é seu desejo, valerá a pena, ainda mais que você é uma mulher forte e batalhadora!

    Desejo-te sorte e felicidade.

    Parabéns também pelo texto ótimamente escrito.

    Beijocas

    Conradon

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