domingo, 1 de março de 2009

A ditabranda da Folha

O assunto já ficou velho, mas ainda gera discussão. Percebi isso ao ler agora um texto de desabafo de Pablo Vilaça em seu blog, no site do Cinema em Cena. Ele se mostra totalmente indignado com o fato da Folha chamar o Governo Militar de ditabranda em um editorial sobre Hugo Chávez. Em seguida, pode-se ver dezenas de posts discutindo o assunto. Bom, para explicar direitinho aos leitores deste singelo blog, segue um texto enviado pelo Comunique-se:


Intelectuais lançam manifesto contra a 'ditabranda' da Folha de S. Paulo
Em resposta ao editorial da Folha, publicado no último dia 17/02, em que classificou o regime militar vigente no Brasil entre 1965 e 1984 como uma “ditabranda”, um grupo de intelectuais lançou, no último sábado (21/02), um manifesto e abaixo-assinado em “repúdio à arbitrária e inverídica revisão histórica”.
“Ao denominar ‘ditabranda’ (...) a direção editorial do jornal insulta e avilta a memória dos muitos brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do país. (...) O estelionato semântico manifesto pelo neologismo ditabranda é, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pós-1964”, diz o manifesto.
O documento também critica a posição da Folha que chamou de “cínica e mentirosa” a indignação dos professores Maria Victoria de Mesquita Benevides e Fábio Konder Comparato. Os dois enviaram cartas à redação, que foram publicadas no Painel do Leitor do dia 20/02. A resposta da redação aos dois foi criticada até pelo Ombudsman do jornal, Carlos Eduardo Lins da Silva, que, normalmente, não avalia as opiniões publicadas.
“Um editorial com referência ao regime militar brasileiro provocou cartas publicadas no ‘Painel do Leitor’. Resposta da Redação a duas delas na sexta fogem do padrão de cordialidade que julgo essencial o jornal manter com seus leitores”, afirmou o ombudsman em sua coluna no último domingo.
Entre os intelectuais que assinam o manifesto estão nomes de destaque, como o do professor aposentado da USP Antônio Cândido; dos professores da USP Dalmo de Abreu Dallari e Emir Sader; e do diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, Michel Löwy. Até o momento, a petição online conta com 3.116 assinaturas.
As vozes contrárias ao editorial encontraram apoio no editor de Brasil da Folha, Fernando de Barros e Silva. Em
artigo publicado na última terça-feira (24/02), sob o título de “Ditadura, por favor”, o jornalista afirma que a posição do jornal em classificar o regime militar como “ditabranda” é “mais do que um erro, um sintoma de regressão”.“Algumas matam mais, outras menos, mas toda ditadura é igualmente repugnante. Devemos agora contar cadáveres para medir níveis de afabilidade ou criar algum ranking entre regimes bárbaros?”, questiona Barros e Silva.
A direção da Folha não se manifestou.


O assunto é grave pois não envolve apenas a criação do termo ditabranda, mas nos força a refletir a grande imprensa nacional.
Sou leitora da Folha de S. Paulo há muitos anos, mas admito que deixei de gostar tanto deste jornal já a algum tempinho. Para começar, a Ilustrada não é mais a mesma. O caderno deixou de buscar a reflexão para procurar, apenas, o vendável. A Ilustrada perde de dez a zero para o Caderno 2 do Estadão e já está sendo passada pelo Caderno 2 do Globo.
Mas a minha decepção com o maior jornal do Brasil se concretizou na última eleição presidencial, quando ficou muito clara a sua tendência editorial para o PSDB. Nada contra um jornal ter posicionamento político, mas isso deve ser feito claramente. Tenho o manual de redaçao da Folha em casa e sei que as diretrizes da empresa não lhe permitem optar por um lado, mas sempre buscar a imparcialidade. Enquanto o Estadão se comporta como um veículo conservador, de maneira assumida (o que respeito), a Folha se coloca como um jornal moderno e se mostra um local chefiada por homens direitistas ao usar o termo (extremamente infeliz) ditabranda.
Não deixarei de ler a Folha, assim como deixei de ler a Veja há nove anos - sim, eu sou radical, não leio a Veja sob hipótese alguma. Mas estarei sempre atenta a posicionamentos reacionários, cada vez mais comuns neste jornal.

3 comentários:

  1. Um jornal tem até certo ponto liberdade para "lançar" polêmicas por aí. Até certo ponto porque penso que tudo que se escreve ou se divulga deve ter uma grande dose de responsabilidade e respeito com as pessoas envolvidas. Nesse caso, a Folha deu provas de irresponsabilidade, de desconsideração por uma, duas e até três gerações que sofreram com a ditadura militar brasileira. Como pode ser branda? Se um sangue foi derramado, já é algo grave. Além de tudo, insensibilidade...

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  2. Ai, Negão, quem dera todos policiais fossem bem informados como você... Com certeza a Carta Capital é o único veículo da grande imprensa a não se mostrar reacionária. Seus colegas de faculdade nerds terão muito a aprender contigo!

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